Irã está radicalizando adolescentes suecos para atacar alvos israelenses na Europa

Bandeiras da Suécia e da União Europeia (Foto: EFE/EPA/JOHAN NILSSON)

Casos semelhantes vêm sendo observados também fora da Suécia


O regime islâmico do Irã tem aproveitado a vulnerabilidade de adolescentes suecos para transformá-los em instrumentos de sua campanha contra Israel em solo europeu.

Segundo reportagem da CNN, publicada neste mês, o regime iraniano está recrutando esses adolescentes — alguns com apenas 13 anos — por meio de gangues criminosas que atuam na Suécia a serviço da inteligência de Teerã. Os menores são usados para executar ataques com armas de fogo e explosivos contra alvos israelenses no país.

Grande parte desses ataques foram realizados entre 2023 e 2024, com foco principal na embaixada de Israel em Estocolmo, capital da Suécia. De acordo com o Serviço de Segurança da Suécia (SÄPO), ao menos quatro atentados ou tentativas foram registrados nesse período, incluindo disparos e uma tentativa de atentado com bomba. Um dos casos mais emblemáticos aconteceu em maio de 2024, quando um adolescente de 15 anos foi preso com uma arma a caminho da embaixada israelense. No dia seguinte, um outro adolescente de 14 anos abriu fogo com uma pistola semiautomática nas proximidades da mesma missão diplomática.

Os dois jovens envolvidos no ataque, segundo documentos judiciais obtidos pela CNN, haviam sido recrutados e recebiam instruções logísticas de integrantes das gangues Foxtrot e Rumba — organizações criminosas ligadas ao tráfico de armas e homicídios na Suécia. A legislação sueca, que não permite a responsabilização penal de menores de 15 anos, impediu o indiciamento do autor dos disparos. Já o segundo envolvido, de 15 anos, foi condenado a 11 meses de detenção juvenil.

O padrão de ataques se repetiu nos meses seguintes. Em outubro de 2024, um menino de 13 anos atirou contra o escritório da empresa israelense Elbit Systems, na cidade sueca de Gotemburgo. Ninguém ficou ferido. Em abril de 2025, quatro jovens, com idades entre 15 e 19 anos, foram condenados por recrutar o menor e fornecer a arma usada na ação. Já em junho, a polícia sueca frustrou um novo atentado no mesmo endereço, ao localizar dois frascos térmicos recheados com explosivos plásticos.

De acordo com o serviço de inteligência israelense (Mossad), as gangues Foxtrot e Rumba operam sob influência direta do Ministério da Inteligência e Segurança do Irã (MOIS). O líder da Foxtrot, Rawa Majid, nasceu no Irã e, segundo o Mossad, retornou ao país em 2023 para estabelecer uma linha de comunicação direta com o regime de Teerã. Em março deste ano, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos impôs sanções contra Majid e sua organização, responsabilizando-os por ataques patrocinados pelo Irã, incluindo uma tentativa de atentado à embaixada israelense em Estocolmo, ocorrida em janeiro de 2024.

O governo sueco confirmou a ligação entre os ataques recentes perpetrados pelos jovens e o regime iraniano. Em janeiro de 2025, o primeiro-ministro Ulf Kristersson afirmou que "o Irã está usando gangues criminosas organizadas e violentas para realizar ataques graves dentro da Suécia". Segundo ele, embora o país não esteja em guerra, "não vive em paz" e é alvo de "ataques híbridos conduzidos com dinheiro, desinformação e sabotagem".

Para o chefe de operações da polícia de segurança sueca (SÄPO), Fredrik Hallström, "o crime organizado na Suécia é hoje uma vulnerabilidade sendo explorada por atores estatais". Em nota oficial, ele alertou que grupos ligados ao regime iraniano estão não apenas recrutando jovens suecos, mas também conduzindo campanhas digitais para desestabilizar a sociedade e disseminar desinformação.

"Essa é uma tendência que provavelmente vai se intensificar", advertiu Hallström.

O contexto interno parece estar contribuindo para o avanço dessa estratégia iraniana. A Suécia enfrenta neste momento uma crise de violência juvenil: 30% dos suspeitos de homicídios com armas de fogo em 2024 tinham menos de 18 anos, segundo relatório oficial citado pela CNN. Com leis que priorizam medidas reabilitadoras, menores de idade se tornaram alvos preferenciais de recrutamento por parte das gangues, principalmente por aqueles ligadas à Teerã.

Segundo informações, as redes criminosas vinculadas ao regime iraniano utilizam plataformas criptografadas como Telegram, Signal e Zangi para se comunicar e recrutar os jovens e adolescentes. Promessas de dinheiro, roupas de marca e proteção são usadas como iscas, segundo assistentes sociais e especialistas em segurança consultados pela CNN.

Casos semelhantes vêm sendo observados também fora da Suécia. Autoridades da Alemanha, Grécia e Austrália investigam possíveis ligações entre redes criminosas locais e atentados contra instituições judaicas, com envolvimento indireto do Irã.

Diante das informações, todos os governos nórdicos passaram a buscar o apoio de empresas de tecnologia. Representantes da Suécia, Dinamarca e Noruega se reuniram com executivos da Meta, Google, TikTok e Snapchat para discutir medidas de moderação de conteúdo e combate ao recrutamento digital. As plataformas criptografadas, como o Telegram, não participaram.

O novo padrão de atuação do regime iraniano — que agora utiliza menores ocidentais para executar ataques contra Israel — amplia o alcance da guerra por procuração de Teerã para dentro da Europa. Para as comunidades judaicas e diplomáticas no continente, a ameaça se tornou doméstica — e imprevisível.

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