Com ataque ao Irã, EUA abrem novo capítulo em conflito no Oriente Médio

Presidente norte-americano Donald Trump deu ultimato ao regime do Irã. (Foto: EFE)

"Agiremos rápida e decisivamente quando nosso povo e parceiros forem ameaçados"


Os Estados Unidos abriram na noite de sábado (21) um novo e importante capítulo dos conflitos no Oriente Médio. Ao atacar instalações nucleares no Irã, o governo de Donald Trump deu um passo além de seus antecessores e abriu caminho para uma nova escalada no embate entre Israel e Irã.

A ofensiva norte-americana foi confirmada por Trump em uma publicação na rede Truth Social. "Concluímos nosso ataque bem-sucedido às três instalações nucleares no Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan", escreveu. Horas depois, o mandatário fez um pronunciamento no qual deu um ultimato para que Teerã volte a negociar um acordo de desarmamento nuclear com Washington.

"Objetivo não é mudar o regime", diz governo americano

Em uma entrevista coletiva na manhã deste domingo (22), o secretário de Defesa Pete Hegseth e o chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, Dan Caine, deram detalhes da operação intitulada Midnight Hammer (martelo da meia-noite, em tradução livre) e garantiram ter "devastado" o programa nuclear iraniano.

Segundo os militares, o principal grupo de ataque foi composto por sete bombardeiros B-2, que não foram detectados pelos sistemas de mísseis iranianos. Hegseth disse que e o ataque não tem como objetivo mudar o regime no Irã, mas alertou: "agiremos rápida e decisivamente quando nosso povo e parceiros forem ameaçados".

Irã faz novos ataques e diz que EUA "desferiram golpe sério à paz"

A resposta iraniana veio na madrugada de domingo com novos mísseis disparados contra Israel. Cerca de 30 projéteis atingiram áreas residenciais no centro do país, em Tel Aviv e Ness Ziona, ferindo cerca de 80 israelenses, segundo o Ministério da Saúde israelense.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, foi o primeiro representante do país a se pronunciar a respeito do ataque norte-americano. Para ele, os EUA "cruzaram uma grande linha vermelha". "Com esta ação, os Estados Unidos desferiram um golpe sério à paz e à segurança internacionais", disse o chanceler, que ainda prometeu que o Irã se defenderia "por todos os meios necessários".

Já neste domingo, o Parlamento do Irã aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, principal rota marítima para o transporte de petróleo no Oriente Médio e responsável por cerca de 20% do transporte global do produto. A medida ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional do país e sancionada pelo líder aiatolá Ali Khamenei.

Israel parabeniza Trump; ONU apela à diplomacia

Em Israel, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu agradeceu a Trump pela ação no Irã e afirmou que ela "mudará a história". "Parabéns, Presidente Trump. Sua audaciosa decisão de atingir as instalações nucleares do Irã com o poder impressionante e justo dos Estados Unidos mudará a história", afirmou.

Líderes mundiais repercutiram o ataque norte-americano. O secretário-geral da ONU, António Guterrez, classificou a ofensiva como "uma escalada perigosa em uma região que já está no limite" e disse que "o único caminho a seguir é a diplomacia".

Em uma publicação no X, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse ter conversado com o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, a quem pediu um retorno às vias diplomáticas. "O diálogo, um compromisso claro do Irã de renunciar às armas nucleares, ou colocar em risco toda a região. Só existe um caminho que leva à paz e à segurança para todos", declarou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, declarou que "a estabilidade deve ser a prioridade e o respeito pelo direito internacional é fundamental". O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, pediu que o Irã "retorne à mesa de negociações e chegue a uma solução diplomática".

Os regimes da China e da Rússia condenaram o ataque. A diplomacia russa classificou o bombardeio americano como "irresponsável" e disse que ele "viola flagrantemente o direito internacional". Já o governo chinês apelou para que as partes envolvidas, especialmente Israel, "cessem o fogo o mais rápido possível".

Ataque é recado a Rússia e China, diz analista

Ex-subsecretário adjunto de Defesa para operações especiais e combate ao terrorismo dos EUA, William F. Wechler acredita que os desdobramentos do conflito dependem da posição que o regime iraniano irá tomar. "O regime está em uma posição fundamentalmente fraca e deve aproveitar esta última oportunidade para se salvar", analisa. "Se o conflito continuar, espere ataques a alvos econômicos e energéticos iranianos."

Para Alan Pino, pesquisador com experiência na Agência Central de Inteligência, independentemente da resposta do Irã, o governo de Trump mandou um recado poderoso a Rússia e China. "O de que seu desejo de evitar se envolver em novas guerras não o impede de usar a força quando ele acredita que os interesses centrais dos EUA estão envolvidos."

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