São análises sobre a miocardite, que provoca diversos sintomas e insuficiência cardíaca. Diante de ataques e advertências de Trump, a Pfizer admitiu que o risco existe, mas é baixo. A empresa decidiu divulgar uma grande quantidade de dados que sustentariam essa posição sobre o tema
Segundo publicou o jornal argentino Clarín, são dias turbulentos para as vacinas de RNA mensageiro contra a Covid, após a ofensiva do governo Trump contra essa plataforma tecnológica. Agora, porém, seu impacto na saúde passou a ser questionado, especialmente nos Estados Unidos.
Na semana passada, veio à tona que um iminente relatório oficial naquele país associaria esse tipo de vacina à morte de 25 crianças. O laboratório Pfizer, um dos dois que produzem a vacina de mRNA contra a Covid (o outro é a Moderna), parece ter aceitado o desafio e decidiu divulgar, nas últimas horas, informações-chave.
Trata-se dos resultados de múltiplos estudos focados no efeito adverso mais enfatizado dessa vacina: a miocardite. Esses dados, muitos provenientes de pesquisas independentes, permitem dimensionar como essa doença se relaciona com o fármaco da Pfizer.
"A miocardite é um risco reconhecido após a vacinação com a Comirnaty (nome comercial do imunizante). Isso está detalhado na bula da Comirnaty, nas seções de Advertências e Precauções e Reações Adversas", afirmou a Pfizer em comunicado, esclarecendo em seguida: "A miocardite após a vacinação contra a Covid ocorre muito raramente, como indicam os resultados de múltiplos estudos farmacoepidemiológicos em larga escala realizados nos Estados Unidos, França, países nórdicos e no Reino Unido, além de uma metanálise".
A miocardite é a inflamação do miocárdio, ou músculo do coração. Pode ser causada por infecções virais ou bacterianas, entre outras, além de reações alérgicas a medicamentos, exposição a substâncias químicas ou radiação e distúrbios autoimunes. A inflamação pode enfraquecer o coração, provocar sintomas como dor no peito, fadiga, dificuldade para respirar e até evoluir para insuficiência cardíaca.
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| Frascos da vacina de RNA mensageiro da Pfizer. (Foto: Reuters) |
O maior risco de desenvolver miocardite após a aplicação da vacina da Pfizer foi identificado em homens jovens, dentro de até 14 dias após a vacinação, especialmente depois da segunda dose do esquema primário. "As análises de dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, a partir do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS), indicam que a miocardite após uma dose de reforço da vacina é menos comum do que após a segunda dose do esquema primário", informou a companhia.
O comunicado acrescentou ainda que "diversos estudos importantes relataram as possíveis consequências da miocardite tanto após a infecção por Covid-19 quanto após a vacinação. Uma revisão sistemática e uma metanálise revelaram que o risco de miocardite após a infecção por Covid é aproximadamente 42 vezes maior do que o risco após a vacinação contra a doença".
A Pfizer também destacou que, "ao comparar a evolução clínica da miocardite associada à vacina contra a Covid com a miocardite decorrente de outras causas, os estudos têm sugerido resultados mais favoráveis nos casos ligados à vacinação".
Pesquisas muito abrangentes
Um dos estudos mais extensos citados, com acompanhamento de longo prazo, baseia-se no Sistema Nacional de Dados de Saúde da França e inclui todas as pessoas entre 12 e 49 anos hospitalizadas por miocardite. O estudo constatou que os pacientes com miocardite após a vacinação com mRNA apresentaram menor frequência de complicações cardiovasculares do que aqueles com miocardite convencional.
Além disso, os pesquisadores destacaram que análises envolvendo mais de 42 milhões de doses aplicadas na Inglaterra revelaram que o risco de hospitalização ou morte por miocardite é maior após a infecção por Covid do que após a vacinação contra a doença, "e continua sendo modesto após doses sequenciais da Comirnaty".
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| A vacina Comirnaty tem sido administrada nos últimos anos em adultos e crianças. (Ilustrativo) |
Por outro lado, um estudo independente, financiado pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), projetado para analisar casos de miocardite após a vacinação, "concluiu que os resultados clínicos em médio prazo de 333 pessoas com miocardite associada à vacina contra a Covid-19, acompanhadas por uma média de 178 dias, foram tranquilizadores, sem mortes relacionadas ao coração registradas nem necessidade de transplantes cardíacos".
Além disso, um estudo recente realizado na Austrália, que incluiu 256 pessoas com miocardite associada à vacina contra a Covid e acompanhamento mais prolongado de 18 meses, relatou "baixas taxas de hospitalização, nenhuma morte e melhorias adicionais na qualidade de vida relacionada à saúde ao longo do tempo".
Chris Boshoff, diretor científico e presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Pfizer, afirmou após a divulgação dessa sequência de estudos científicos: "Embora a infecção por Covid possa representar riscos significativos, seguimos comprometidos com a vigilância rigorosa de possíveis preocupações".
Na Argentina, como no resto do mundo, a vacina da Pfizer foi a mais aplicada na população. Após uma longa polêmica inicial durante a pandemia — quando o país havia descartado a compra enquanto os imunizantes eram escassos e o vírus avançava —, contratos sucessivos garantiram até hoje o estoque de doses que o Estado disponibiliza à população de forma gratuita.



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