EUA vetam resolução da ONU que pede cessar-fogo imediato e liberação de reféns em Gaza

O vice-enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Morgan Ortagus, aplica veto enquanto membros do Conselho de Segurança da ONU votam um projeto de resolução que exige cessar-fogo em Gaza, na sede da ONU em Nova York, em 18 de setembro de 2025. (Foto: Eduardo Munoz/Reuters)

Os Estados Unidos afirmaram que não poderiam apoiar a resolução da ONU porque ela deixaria o Hamas no controle de Gaza

Os Estados Unidos vetaram nesta quinta-feira (18) uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia cessar-fogo imediato em Gaza, a libertação de reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas e o fim das restrições israelenses à ajuda humanitária, bloqueando uma medida apoiada pelos outros 14 membros do órgão de 15 países.

A vice-enviada americana para o Oriente Médio, Morgan Ortagus, afirmou que Washington não podia apoiar a resolução porque ela teria consolidado um cessar-fogo com o Hamas ainda no controle de Gaza.

"Os Estados Unidos nunca aceitarão isso", disse ela. "O Presidente Trump nunca aceitará isso. Ele deixou claro que todos os 48 reféns devem ser libertados agora, Esta resolução também se recusa a reconhecer e busca retornar a um sistema fracassado que permitiu ao Hamas se enriquecer e se fortalecer às custas de civis necessitados."

A pressão internacional sobre Israel vem aumentando, incluindo de governos e organizações de ajuda, à medida que o conflito se aproxima de dois anos.

A resolução foi apresentada pela Dinamarca em nome dos membros eleitos do conselho.

A representante da Dinamarca na ONU, Christina Markus Lassen, afirmou que a medida tinha o objetivo de enfrentar o que ela descreveu como uma "falha humanitária e humana" em Gaza e "contribuir para o fim desta guerra abominável". Lassen disse que a fome em Gaza já foi confirmada.

A Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), órgão apoiado pela ONU, afirmou em agosto que quase 514 mil pessoas em Gaza estão enfrentando fome, alegação que Israel rejeitou.

Ortagus disse que a resolução falhou em "reconhecer a realidade no terreno" e um "aumento significativo no fluxo de ajuda humanitária". Ela disse que dados da ONU mostraram que cerca de 85% da ajuda enviada a Gaza desde 19 de maio foi interceptada, ressaltando que a assistência deve chegar aos civis necessitados, e não sustentar o Hamas.

A vice-enviada americana acrescentou que a ONU e os membros do Conselho de Segurança deveriam apoiar a Gaza Humanitarian Foundation e outros mecanismos que entregam ajuda aos civis, ao mesmo tempo em que negam recursos ao Hamas.

Antes da votação, o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, afirmou em uma publicação nas redes sociais que "resoluções contra Israel não libertarão os reféns nem trarão segurança".

"Israel continuará a combater o Hamas e a proteger seus cidadãos, mesmo que o Conselho de Segurança prefira fechar os olhos para o terrorismo", disse ele.

Falando em Londres ontem, Trump também enfatizou a necessidade de focar nos reféns israelenses.

"Temos que lembrar de 7 de outubro, um dos dias mais violentos da história do mundo", disse ele. "Os reféns precisam ser libertados imediatamente."

Israel afirma que suas ações em Gaza, incluindo a ofensiva militar em curso no enclave, têm como objetivo desarmar o Hamas, conseguir a libertação de todos os reféns israelenses e criar uma administração civil sem vínculos com o Hamas ou com a Autoridade Palestina.

Israel rejeitou as conclusões de um relatório da ONU desta terça-feira (16) que afirma que o país está cometendo genocídio na Faixa de Gaza.

Frustração no Conselho de Segurança

O projeto de resolução de quinta-feira não foi aprovado, com 14 votos a favor e um contra. Segundo as regras do conselho, um único voto negativo de um membro permanente impede a adoção. O veto dos EUA gerou críticas de membros do conselho e representantes regionais.

A França pediu que o Hamas fosse desarmado e excluído do governo, mas também pressionou Israel a permitir a entrada irrestrita de ajuda humanitária.

O embaixador da Argélia, Amar Bendjama, pediu desculpas aos palestinos por não ter feito o suficiente para salvar vidas de civis.

O enviado da Somália, Abukar Dahir Osman, afirmou que a não aprovação da resolução foi "uma falha moral profunda" que reflete uma lógica perigosa de que “o sofrimento de alguns é mais tolerável que o sofrimento de outros, e que a vida de certas pessoas importa menos".

"O momento em que medimos o valor da vida humana pela nacionalidade, etnia ou circunstâncias, perdemos a própria base sobre a qual esta instituição foi construída", acrescentou.

O Paquistão descreveu o veto como "um momento sombrio", enquanto o delegado da Rússia alertou que "não haverá avanço" enquanto os Estados Unidos "não mudarem a forma como veem a crise em Gaza".

Outros membros, incluindo Grécia, Eslovênia, Panamá e Coreia do Sul, também expressaram preocupação com a fome e pediram esforços renovados para garantir tanto o cessar-fogo quanto a libertação dos reféns.

O observador palestino Riyad Mansour afirmou que a falha em aprovar a resolução teve "um grande custo" para a "credibilidade e autoridade" do conselho, acrescentando que o uso do veto em tais situações "simplesmente não deveria ser permitido".

Aliados dos EUA devem apoiar reconhecimento da Palestina

Principais aliados ocidentais, incluindo França, Reino Unido, Canadá e Austrália, devem reconhecer a independência da Palestina durante a cúpula da ONU em Nova York, na próxima segunda-feira (22).

Israel e os Estados Unidos se opõem à medida, afirmando que ela recompensa o Hamas pelo ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 reféns foram feitos.

Washington declarou que o reconhecimento só pode ocorrer como parte de um acordo negociado com Israel.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 65 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito em Gaza. O ministério não diferencia civis de combatentes na contagem. O Israel 7000 anos não pode verificar a precisão desse número.

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