Preso na Argentina o maior distribuidor de propaganda e literatura nazista

Alguns dos títulos apreendidos pela Polícia de Buenos Aires na 'Librería Argentina' | Polícia de Buenos Aires

O homem, com cerca de 45 anos, produzia em sua residência e comercializava pela internet mais de 300 livros que glorificavam Adolf Hitler, promoviam o antissemitismo e negavam o Holocausto

Um homem que vivia sozinho nos arredores do norte de Buenos Aires escondia em sua casa a maior distribuidora de livros nazistas da Argentina. A polícia federal anunciou sua prisão nesta quarta-feira (13), após quase dois anos de investigação. De acordo com as autoridades, o homem, com cerca de 45 anos, vendia mais de 300 títulos pela internet, incluindo propaganda nazista, perfis que glorificavam Adolf Hitler, negação do Holocausto e revisões da Segunda Guerra Mundial. Ele foi capturado após os agentes coordenarem uma compra disfarçada que resultou em sua detenção.

A investigação começou em meados de 2021 após denúncia da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA) . "Recebemos uma denúncia de um site que divulgava conteúdo antissemita e vendia o material através do Mercado Livre", disse o comissário Fabián Villagra, chefe da Unidade de Investigação de Terrorismo da Polícia Federal Argentina. "As investigações duraram quase dois anos. Inicialmente, tínhamos apenas um nome de usuário, mas conseguimos identificar o nome, sobrenome e documento da pessoa. Depois chegamos ao endereço onde o material era impresso". O homem, que não foi identificado pelas autoridades, distribuía os livros na maior plataforma de comércio eletrônico da América do Sul. Quando sua conta de usuário foi desativada, ele continuou através de um site próprio.

'Las SS te llaman', um dos livros apreendidos da distribuidora e gráfica | Polícia de Buenos Aires
'Las SS te llaman', um dos livros apreendidos da distribuidora e gráfica | Polícia de Buenos Aires

A página do detido, Librería Argentina, continua ativa com um catálogo de centenas de títulos. Seu site se descreve como "especializado em temas bélicos e relacionados às duas Guerras Mundiais e aos movimentos políticos, filosóficos e espirituais que atuaram nelas". "Damos espaço a todos os livros marginalizados pelas livrarias mais populares, independentemente de sua inclinação". Alguns dos primeiros livros de seu catálogo abordam o fascismo e a "ética" ariana.

Durante a busca na cidade de San Isidro, no norte rico da periferia de Buenos Aires, as autoridades apreenderam 222 livros diferentes, 140 capas de exemplares que o homem não chegou a imprimir e algumas impressoras de escritório. A descoberta dos detetives federais foi revelada nesta quarta-feira em uma sala da sede do Corpo de Polícia Montada, na capital argentina. Eles encontraram várias edições diferentes de "Minha Luta" e de "As SS te chamam!", um panfleto do exército de Hitler publicado durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, também havia títulos muito diversos sob o nome de cerca de vinte editoras, que iam desde a negação do genocídio nazista e das responsabilidades da Alemanha nazista e do regime de Francisco Franco na Espanha no bombardeio de Guernika, até biografias apócrifas do magnata automobilístico norte-americano Henry Ford e panfletos contra o judaísmo na Argentina. Muitos dos livros exibiam símbolos como suásticas, o Reichsadler – a águia imperial do nacional-socialismo alemão – ou as cruzes de ferro usadas pelos nazistas para condecorar seus oficiais.

A polícia utilizou esses elementos para enquadrar o crime como uma violação da lei contra Atos Discriminatórios. "A mera exibição desse tipo de simbologia configura uma infração à lei 23.592, toda vez que isso justifica, reivindica e até venera as atrocidades cometidas pelo regime nacional-socialista nazista contra a comunidade judaica", anunciaram em comunicado.

"É impressionante que haja pessoas produzindo esse tipo de material e preocupante que haja pessoas consumindo. Esse é o desafio com o qual precisamos lidar", disse Marcos Cohen, vice-presidente da DAIA, durante o anúncio. "Precisamos trabalhar na área punitiva, mas também temos muito a fazer na área educacional, porque a primeira coisa que precisamos erradicar são os leitores desse material."

A Librería Argentina não poderá mais receber pedidos de clientes, mas muitos de seus livros ainda circulam na internet. O método ainda é o boca a boca, agora entre os comentários de outros títulos menos explícitos. "Oi! Acabei de comprar este livro, por acaso vocês também têm 'As SS te chamam! Edições SS-Hauptmat Sieghels'?", pergunta um usuário em uma postagem no mesmo site e-commerce que o detido costumava usar. O vendedor responde: "Oi, bom dia. Sim, temos, mas não podemos publicar no Mercado Livre. Entraremos em contato com você no privado para te explicar como proceder. Qualquer dúvida, contate-nos. Saudações."

*Com informações do El País

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