Militar de alto escalão do Irã está no Líbano para assistir a discurso 'decisivo' do chefe do Hezbollah

Esmail Qaani substituiu comandante morto em ataque dos EUA em 2020 | Wikimedia Commons

Esmail Qaani lidera a Força Quds, braço da Guarda Revolucionária iraniana que coordena grupos terroristas no Oriente Médio

O comandante da Força Quds do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica do Irã, Esmail Qaani, está em Beirute, no Líbano, para acompanhar o discurso considerado "decisivo" do secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira (3). Será a primeira vez que o chefe da organização libanesa falará publicamente desde o início da guerra de Israel contra os terroristas do Hamas.

Assim como faz historicamente, por razões de segurança, Nasrallah fará um pronunciamento televisionado, que será exibido em uma cerimônia em Dahiyeh (subúrbio ao sul de Beirute).

Nesta semana, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, afirmou que Israel ultrapassou "todas as linhas vermelhas" na guerra contra o Hamas.

A Força Quds é o braço do Exército iraniano que estrutura, financia, treina e equipa diversos grupos terroristas contrários aos Estados Unidos e a Israel no Oriente Médio, incluindo o próprio Hezbollah e o Hamas, mas também a Jihad Islâmica, o Houthi e a Resistência Islâmica no Iraque.

Segundo o Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, o grupo de elite comandado por Esmail Qaani "é uma das principais organizações do regime iraniano responsável pela condução de atividades letais encobertas fora do Irã, incluindo operações assimétricas e terroristas".

Os Estados Unidos classificam todo o Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica de uma organização terrorista. A Força Quds, afirma o órgão antiterrorismo americano, "forneceu equipamento militar avançado ao Hezbollah libanês, incluindo sistemas de defesa aérea, mísseis de cruzeiro de defesa costeira, foguetes de longo alcance e sistemas de aeronaves não tripuladas".

Qaani substituiu o ex-comandante da Força Quds Qassem Soleimani, morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos em janeiro de 2020 no Iraque.

Hezbollah

O primeiro grupo foi o Hezbollah. A ligação com o Irã aparece já no nome, que significa "Partido de Alá", ou "Partido de Deus", e foi dado pelo aiatolá Khomeini.

Foi fundado no início da década de 1980, no Líbano, e conta com a maior fatia de apoio militar e financeiro iraniano.

O Departamento de Estado dos EUA estimou, em 2018, que Teerã enviava mais de US$ 700 milhões (R$ 3,5 bilhões, na cotação atual) anualmente ao Hezbollah, cifra que caiu a partir de 2020 devido a sanções americanas, à queda da cotação do petróleo e à pandemia de Covid-19.

O secretário-geral da organização, Sayyid Hassan Nasrallah, afirmou, em 2016, que "o orçamento do Hezbollah, tudo o que ele consome, suas armas e mísseis, vem da República Islâmica do Irã".

Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em 2020 o Hezbollah havia se tornado o ator não estatal mais fortemente armado do mundo, com pelo menos 130 mil foguetes e mísseis.

O poder financeiro fez com que o Hezbollah entrasse para a política libanesa ao concorrer a cargos públicos pela primeira vez em 1992, conquistando postos importantes no governo e no setor econômico do país desde então.

O Hezbollah tem algum apoio dentro do Líbano, principalmente da população xiita, mas a maioria dos cidadãos não endossa suas ações.

Segundo o Wilson Center, durante a década de 1980 o Hezbollah realizou vários atentados suicidas contra pessoal e instalações dos EUA no Líbano, além de tomar dezenas de reféns estrangeiros, incluindo mais de uma dúzia de americanos.

Na Guerra do Líbano, em 2006, o Hezbollah desempenhou um papel central como ator não estatal, ao entrar em confronto com as Forças de Defesa de Israel. O conflito começou quando o grupo capturou dois soldados israelenses na fronteira e lançou foguetes contra cidades e vilarejos no norte de Israel.

A organização demonstrou sua capacidade militar, disparando uma grande quantidade de foguetes em direção a Israel e causando danos materiais e baixas civis. A guerra resultou em uma intensa ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Hezbollah conseguiu resistir e infligir perdas significativas às forças israelenses.

O conflito encerrou-se com um cessar-fogo mediado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e teve um impacto profundo na política e na segurança da região, consolidando ainda mais o status do Hezbollah no Líbano e no cenário internacional.

O Hezbollah iniciou uma série de ataques ao norte de Israel logo após a ação do Hamas, em 7 de outubro. Mísseis são disparados diariamente em direção ao norte israelense, enquanto milicianos tentam incursões por terra — nenhuma bem-sucedida até o momento.

As ameaças fizeram com que diversas cidades fronteiriças fossem evacuadas nas últimas semanas. Alguns dos foguetes disparados chegaram a atingir residências nessas localidades.

Publicado originalmente em R7

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