Declaração dos Brics desconversa sobre Ucrânia, condena Israel e não cita Hamas e Hezbollah

O ditador da Rússia, Vladimir Putin, discursa durante recepção na cúpula dos Brics em Kazan, nesta quarta-feira (23) | Foto: EFE/EPA/ALEXANDER NEMENOV/POOL

Os Brics são compostos por nove países: Brasil, Índia, África do Sul, Etiópia, Rússia, China, Irã, Egito e Emirados Árabes


Os Brics divulgaram nesta quarta-feira (23) a declaração da 16ª cúpula do bloco, que será encerrada amanhã na cidade russa de Kazan. O documento critica Israel pelas ofensivas na Faixa de Gaza e no Líbano contra os grupos terroristas Hamas e Hezbollah, respectivamente, e desconversa sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.

"Reiteramos a nossa profunda preocupação com a deterioração da situação e da crise humanitária no Território Palestino Ocupado, em particular a escalada sem precedentes da violência na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, como resultado da ofensiva militar israelense, que levou à matança e ferimentos em massa de civis, ao deslocamento forçado e à destruição generalizada de infraestruturas civis", aponta a declaração.

No documento, os Brics pedem um cessar-fogo em Gaza, libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, mas sem mencionar o nome do grupo terrorista, e de prisioneiros palestinos em Israel e o "fornecimento sustentável e em larga escala de ajuda humanitária à Faixa de Gaza".

"Denunciamos os ataques israelenses contra operações humanitárias, instalações, pessoal e pontos de distribuição", diz o texto, que pede a criação de um Estado palestino e elogia a determinação de medidas feita pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) no processo que a África do Sul, membro dos Brics, apresentou no tribunal contra Israel no ano passado por acusações de genocídio durante a ofensiva em Gaza.

A respeito da ofensiva israelense contra o Hezbollah, o bloco condenou "a perda de vidas civis e os imensos danos à infraestrutura civil resultantes dos ataques de Israel em áreas residenciais no Líbano e apelamos à cessação imediata das ações militares".

"Condenamos veementemente os ataques ao pessoal da ONU, as ameaças à sua segurança e pedimos a Israel que cesse imediatamente tais atividades", acrescentou, fazendo referência aos ataques à Unifil, as forças das Nações Unidas no sul do Líbano, que estariam sendo usadas pelo Hezbollah como escudos humanos, segundo Israel.

Os Brics também condenaram na declaração o ataque, atribuído aos israelenses, ao consulado iraniano em Damasco, no qual foi morto o brigadeiro-general da Guarda Revolucionária iraniana Mohamed Reza al Zahedi e seu assistente, general Mohammad Haji Rahimi, em 1º de abril.

Entretanto, assim como o documento sequer menciona Hamas e Hezbollah, a declaração não fala do apoio militar e financeiro do Irã a esses grupos terroristas, nem do ataque de Teerã com mísseis a Israel em 1º de outubro.

Da mesma forma, não há qualquer condenação à invasão russa à Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

"Nós relembramos as posições dos países sobre a situação dentro e em torno da Ucrânia, conforme expressas nos fóruns apropriados, incluindo o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU. Nós enfatizamos que todos os estados devem agir consistentemente com os Propósitos e Princípios da Carta da ONU em sua totalidade e interrelação. Nós registramos com apreço propostas relevantes de mediação e bons ofícios, visando uma resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia", diz o documento.

Os Brics são compostos por nove países: Brasil, Índia, África do Sul, Etiópia, Rússia, China, Irã, Egito e Emirados Árabes. A Arábia Saudita teve sua entrada aprovada no ano passado, mas ainda não entrou oficialmente nos Brics.

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