"O Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido" de Portugal
O partido de direita Chega, liderado por André Ventura, nasceu em 2019 e, em apenas seis anos, tornou-se um dos principais protagonistas da política portuguesa. O avanço foi confirmado nas eleições legislativas deste final de semana, quando o Chega consolidou-se como a terceira maior força parlamentar do país e acirrou a disputa com os tradicionais PS (Partido Socialista, de esquerda) e PSD (Partido Social Democrata, de centro-direita).
André Ventura, que já integrou o PSD, fundou o Chega motivado pelo descontentamento com a política convencional. Inicialmente, o partido teve participação discreta nas eleições nacionais: nas legislativas de 2019, elegeu apenas um deputado, com 1,29% dos votos. Em 2022, o partido cresceu, conquistando 12 deputados e ampliando seu espaço no Parlamento português.
O salto mais expressivo, porém, veio em 2024, quando o Chega quadruplicou sua bancada, elegendo 50 deputados. Já nas eleições deste ano, a legenda de direita atingiu cerca de 23% dos votos, empatando com o PS em número de parlamentares – 58 deputados – e ficando atrás apenas da coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD), liderada pelo PSD, que atualmente governa o país com o primeiro-ministro Luís Montenegro.
Com o mesmo número de deputados do Partido Socialista neste pleito, André Ventura declarou logo após a apuração dos resultados nacionais que "o Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido" de Portugal. Segundo ele, a eleição deste fim de semana representou "o fim do bipartidarismo" em Portugal, uma vez que, pela primeira vez, um partido recém-criado desafia diretamente as maiores siglas da história recente do país: o PS e o PSD.
O desempenho do Chega nas últimas eleições tem sido atribuído à insatisfação de milhares de eleitores portugueses com o sistema político tradicional. A legenda liderada por André Ventura se apresenta como conservadora nos costumes, liberal na economia e defensora de valores nacionais. Em seu manifesto de fundação, o Chega destaca o combate ao marxismo cultural, rejeita a ideologia de gênero e defende o fim do domínio das elites políticas que, segundo a sigla, governam Portugal desde a redemocratização.
Nas eleições deste ano, o programa do Chega foi apresentado com o lema "Salvar Portugal", e priorizou medidas de endurecimento na imigração, mais segurança, combate à corrupção e revisão do papel do Estado. Entre as principais medidas está a chamada "lei Manu", referência ao jovem Manuel "Manu" Gonçalves, de 19 anos, morto em abril, em Braga, após ser esfaqueado por um imigrante brasileiro. A proposta prevê que estrangeiros que cometam crimes em Portugal cumpram pena no país e, em seguida, sejam deportados.
"Se você cometer um crime aqui, vai para a prisão por vários anos ou até décadas. Assim que cumprir a pena, não ficará nem mais um segundo neste país", afirmou Ventura ao defender a medida durante a campanha eleitoral.
Além da pauta migratória, o Chega defendeu em seu programa eleitoral um "pacote anticorrupção", com penas mais severas, confisco de bens e um programa nacional de combate ao enriquecimento ilícito. O partido defende ainda a redução do número de deputados, cortes em cargos políticos e revisão das regras do Sistema Nacional de Saúde, além de medidas econômicas como redução de impostos para empresas e trabalhadores e meta de salário mínimo de mil euros já em 2026.
Ventura também mira a educação e a cultura, defendendo o ensino de valores tradicionais e a rejeição do que chama de "doutrinação ideológica" nas escolas. Em suas palavras, "na Assembleia da República há só uma bandeira: a de Portugal".
Comparado a nomes como Donald Trump, Javier Milei e Jair Bolsonaro, Ventura posicionou o Chega como uma alternativa conservadora real para eleitores portugueses insatisfeitos, afirmando que o objetivo principal de sua legenda no Parlamento é "devolver Portugal aos portugueses". O próprio Bolsonaro já manifestou apoio público ao partido e a Ventura e chegou, inclusive, a gravar um vídeo defendendo o voto na legenda de direita durante o pleito parlamentar do ano passado.
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