Rabinos debatem entre orar no Muro das Lamentações ou no Monte do Templo

Um grupo de judeus ultraortodoxos ora perto do Domo da Rocha, no Monte do Templo, em 18 de junho de 2018. Oficialmente, a oração judaica no topo do monte é proibida. (Amanda Borschel-Dan/ Times of Israel/ Arquivo)

Um número cada vez maior de vozes religiosas agora defende que os judeus devem ir além do Muro das Lamentações e orar diretamente no Monte do Templo

Uma profunda controvérsia religiosa está dividindo o establishment ortodoxo de Israel às vésperas do Dia de Jerusalém, com rabinos influentes questionando publicamente se os judeus devem continuar a prática tradicional de orar no Muro das Lamentações ou seguir um caminho mais polêmico: subir ao Monte do Templo para realizar suas orações.

As comemorações do Dia de Jerusalém nesta segunda-feira — data que marca a libertação de Jerusalém — costumam atrair grupos do sionismo religioso à capital, celebrando a reunificação da cidade e o retorno ao acesso aos locais mais sagrados do judaísmo. Essas peregrinações anuais culminam em cerimônias emocionantes de oração no Muro das Lamentações, onde milhares se reúnem para atos de gratidão.

No entanto, um número cada vez maior de vozes religiosas agora defende ir além do Muro, incentivando os judeus a orar diretamente no Monte do Templo. Essa mudança sem precedentes despertou um intenso debate dentro dos círculos ortodoxos, colocando tradicionalistas contra aqueles que buscam reivindicar o espaço mais sagrado do judaísmo.

A controvérsia tem origem em uma decisão histórica do Rabinato Chefe de Israel — respaldada pela ampla maioria dos rabinos do país — que proíbe totalmente a subida de judeus ao Monte do Templo. No entanto, os crescentes questionamentos a essa decisão nos últimos anos reacenderam o debate teológico sobre o tema. Consultamos diversos rabinos proeminentes para compreender suas posições diante dessa questão divisiva.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, visita o complexo da Al-Aqsa (conhecido pelos judeus como Monte do Templo) durante o Dia de Jerusalém, na Cidade Velha, em 26 de maio de 2025 (Foto: Reuters/Ammar Awad)
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, visita o complexo da Al-Aqsa (conhecido pelos judeus como Monte do Templo) durante o Dia de Jerusalém, na Cidade Velha, em 26 de maio de 2025. (Foto: Reuters/Ammar Awad)


"O povo de Israel precisa estar em seu estado pleno"

O rabino David Stav, líder da Organização Rabínica Tzohar e rabino da cidade de Shoham, expressou forte oposição à subida ao Monte do Templo durante nossa conversa.

"Acreditamos que o Templo só poderá ser reconstruído quando o povo de Israel alcançar unidade e pureza moral no mais alto grau, além da observância rigorosa das leis específicas de pureza que regem o Monte. Atualmente, essas condições essenciais ainda não foram cumpridas.

Essa preparação espiritual é necessária para que sejamos dignos até mesmo de Jerusalém. A ideia de subir ao Monte para orar em nosso estado espiritual atual representa uma abordagem fundamentalmente equivocada. A subida ao Monte do Templo só será possível quando o povo de Israel atingir seu estado espiritual completo."

"Cada um deve agir de acordo com seu rabino"

O rabino Hagai Lundin, que dirige a Yeshivá Hesder de Holon e coordena o beit midrash (sala de estudos) no Colégio Acadêmico Ono, reconheceu que, embora pessoalmente evite subir ao Monte do Templo, "cada pessoa deve agir de acordo com a orientação de seu rabino".

Ele explicou:

"A questão de orar no Muro das Lamentações ou no Monte do Templo já gera controvérsias há anos. A maioria das autoridades religiosas atualmente se posiciona contra a subida ao Monte. No entanto, hoje em dia, algumas vozes argumentam que a situação de segurança e considerações nacionais fortalecem o argumento a favor do acesso ao local. Eu, pessoalmente, escolho não subir e acredito que podemos fortalecer nossa soberania e nossa conexão com o Monte do Templo por outros meios."

"A oração no Monte do Templo é preferível"

O rabino Yisrael Ariel, fundador e diretor do Instituto do Templo e líder da Yeshivá do Templo na Cidade Velha de Jerusalém, defende exatamente a posição oposta.

"Embora o Muro das Lamentações funcione como uma imensa sinagoga com santidade especial para oração dentro das muralhas antigas, a oração no Monte do Templo é superior. Esse princípio vale o ano todo e tem um significado ainda mais especial no Dia de Jerusalém.

"A oração no Monte carrega um sentido diferente e recebe maior aceitação celestial. Esse conceito aparece na oração de dedicação do Templo feita pelo Rei Salomão, na qual ele utiliza a palavra 'oração', em suas diversas formas, 24 vezes. Essa ênfase demonstra a importância suprema da oração no Monte — o local real do Templo."

"Mãos limpas e coração puro"

O rabino e autor Chaim Navon apresenta uma posição intermediária e mais equilibrada, argumentando que subir ao Monte do Templo exige uma elevação espiritual excepcional.

"Meu querido mestre, o rabino Aharon Lichtenstein, de abençoada memória, acreditava que certas áreas do Monte ainda eram permitidas halachicamente (pela lei judaica). Uma vez, perguntei por que, apesar dessa visão, ele pessoalmente evitava subir ao Monte. Ele citou os Salmos: 'Quem subirá ao monte do Senhor?' A resposta é: 'Aquele de mãos limpas e coração puro'. Apenas alguém que tenha alcançado pureza total de coração e mãos completamente limpas pode subir ao Monte do Templo e se colocar diante do Divino. E ele concluiu: 'Ainda não alcancei esse nível'".

O rabino Navon continuou:

"Embora eu questione se um padrão espiritual tão elevado assim é realmente necessário, ouvir isso do meu mestre me deixou, emocionalmente, incapaz de reunir coragem espiritual para subir ao Monte. Aqueles que atingiram uma completude espiritual maior podem ascender com santidade e pureza — mas nunca devem desprezar aqueles que encontram realização espiritual na oração junto ao Muro das Lamentações. O Muro possui uma santidade intrínseca, ainda mais santificada pelos séculos de orações de incontáveis fiéis judeus."

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