Tóquio afirma que ataque militar a Taiwan justificaria intervenção de forças japonesas
A primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, afirmou na sexta-feira (7) que um eventual ataque da China contra Taiwan poderia representar uma "situação de ameaça à sobrevivência" para o Japão e exigir o uso da força militar para defesa. As declarações, feitas durante uma sessão do Parlamento, provocaram forte reação do regime comunista chinês e levaram Tóquio a apresentar um protesto formal nesta segunda-feira (10).
Takaichi, que assumiu o cargo no mês passado como a primeira mulher a chefiar o governo japonês, disse que qualquer uso de força chinesa nas proximidades de Taiwan configuraria uma "ameaça existencial" para o país. Ao ser questionada sobre cenários que justificariam uma ação de defesa, ela citou como exemplos um bloqueio naval imposto por Pequim ou operações militares que impeçam a chegada de forças norte-americanas à região.
"Se envolver o uso de navios de guerra e ações militares, isso pode, por todos os meios, se tornar uma situação de ameaça à sobrevivência", afirmou a premiê, segundo noticiou a agência Associated Press, acrescentando que nesses casos o Japão poderia usar a força em legítima defesa coletiva, conforme previsto em sua Constituição pacifista.
As declarações levaram o cônsul-geral da China em Osaka, Xue Jian, a publicar uma mensagem agressiva na rede X. No post, o cônsul disse que "não temos outra escolha a não ser cortar esse sujo pescoço que se lançou contra nós sem hesitação. Está pronta?" – o texto foi apagado horas depois, mas provocou indignação em Tóquio.
O porta-voz do governo japonês, Minoru Kihara, classificou a postagem de Xue Jian como "extremamente inapropriada" e confirmou que o Ministério das Relações Exteriores apresentou um protesto formal a Pequim, exigindo explicações e a remoção imediata do conteúdo.
Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, declarou nesta segunda-feira (10) que a publicação de Xue foi uma "opinião pessoal" direcionada às "declarações errôneas e perigosas" de Takaichi, que, segundo ele, "tentam separar Taiwan do território chinês e promovem a intervenção militar no Estreito de Taiwan". Pequim, no entanto, também apresentou uma queixa diplomática contra o Japão, acusando o governo de "interferir nos assuntos internos da China".
O episódio ocorre poucos dias após Takaichi ter se reunido com o ditador chinês, Xi Jinping, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na Coreia do Sul. Apesar do tom cordial do encontro, as tensões voltaram a crescer depois que a premiê japonesa se encontrou com o representante de Taiwan no mesmo evento, gesto que irritou Pequim.
Takaichi, que integra a ala conservadora do Partido Liberal Democrata (PLD), tem prometido reforçar as capacidades militares do Japão e endurecer a postura diante das ambições regionais da China. Pequim, por sua vez, considera Taiwan parte do seu território e não descarta o uso da força para reunificar a ilha, que mantém governo próprio e estreita cooperação militar com os Estados Unidos.

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