Entalhes de camelos em tamanho real na Arábia Saudita intrigam cientistas

Entalhes no formato de camelos foram possivelmente criados há milhares de anos | Crédito da foto: Maria Guagnin, et al

Obras esculpidas há milhares de anos em formação rochosa no deserto de Nafud retratam animais de espécie que está atualmente extinta e nunca recebeu um nome científico

No sítio arqueológico Sahout, que já era conhecido por arqueólogos na Arábia Saudita, pesquisadores notaram algo que nunca havia sido percebido: entalhes em uma formação rochosa com formatos de camelo em tamanho real.

Os especialistas documentaram a obra de arte de milhares de anos atrás em 23 de setembro na revista Archaeological Research in Asia. Os camelos foram esculpidos em uma formação rochosa perto da extremidade sul do deserto de Nafud.

A obra retrata em cinco painéis nove camelos selvagens de uma espécie já extinta que costumava vagar por essa parte da Península Arábica milhares de anos atrás, mas que nunca recebeu um nome científico. Alguns dos animais estão sobrepostos por retratos neolíticos de carneiros domesticados.

Segundo conta ao site Live Science Maria Guagnin, principal autora do estudo e pós-doutora do Instituto Max Planck de Geoantropologia, na Alemanha, sua equipe aprendeu sobre o local a partir de uma pesquisa anterior. Encontrar a formação rochosa "foi difícil porque sua localização não era precisa, e esta não é uma paisagem fácil de navegar", relata.

"Um dos painéis havia sido mencionado em um relatório e em uma publicação da Comissão do Patrimônio da Arábia Saudita, e queríamos encontrá-lo para ver seu contexto", explicou Guagnin ao site IFLScience.

De acordo com a pesquisadora, a topografia do local apresentava longas cristas de arenito baixas, com muitas áreas possíveis para painéis de arte rupestre. Além disso, estava uma temperatura infernal de 42ºC naquele dia, o que dificultava a investigação.

Entalhes de camelos extintos estavam em formação rochosa perto da extremidade sul do deserto de Nafud, na Arábia Saudita | Crédito da foto: Maria Guagnin, et al
Entalhes de camelos extintos estavam em formação rochosa perto da extremidade sul do deserto de Nafud, na Arábia Saudita | Crédito da foto: Maria Guagnin, et al

Mas localizar a formação rochosa não foi o único desafio: como os entalhes têm gravuras mais recentes sobrepostas aos camelos, permanece um mistério qual cultura criou a obra e quando. "As formações rochosas contêm um aglomerado denso de arte rupestre de muitos períodos diferentes", disse Guagnin ao Live Science. "É possível ver que os entalhes foram feitos em várias fases e têm estilos diversos."

Outra dificuldade foi acessar os entalhes para datá-los por radiocarbono, já que a maioria deles foi feito dentro de fendas. Contudo, os especialistas conseguiram concluir que o local de Sahout foi ocupado repetidamente entre o Pleistoceno (2,6 milhões a 11,7 mil anos atrás) e o Holoceno Médio (7 mil a 5 mil anos atrás).

Uma das imagens entalhadas em pedra na Arábia Saudita | Crédito da foto: Maria Guagnin, et. al
Uma das imagens entalhadas em pedra na Arábia Saudita | Crédito da foto: Maria Guagnin, et. al


"As investigações em Sahout indicam que a produção de arte rupestre no norte da Arábia pode ter começado mais cedo do que se pensava", escrevem os autores do estudo. "Pesquisas também sugerem uma extensão geográfica mais ampla das ocupações humanas antes do período úmido do Holoceno."

Além de evidenciarem a época em que foram feitos, os entalhes de camelos tinham um estilo naturalista que revelava o sexo dos animais. "O que mais chama a atenção sobre os camelos lindamente entalhados é que a maioria deles é macho", disse Guagnin. "Alguns dos entalhes mostram camelos exibindo seu doula, um órgão que fica para fora da boca de um camelo macho [usado para atrair fêmeas]."

A partir dessas evidências, os pesquisadores supõem que a arte pode ter sido feita durante a época de acasalamento desses mamíferos. As espécies extintas retratadas também não haviam trocado a pelagem e ainda tinham o pelo de inverno, conforme observa a pesquisadora.

Os especialistas terão de conduzir mais pesquisas para descobrir o significado do local dos entalhes de camelos. "Não há fonte de água conhecida, então pode ter havido algo mais que atraiu as pessoas para cá", supõe Guagnin. "Talvez fosse um bom ponto de parada em seu caminho para outro local. Deve ter sido um lugar importante, mas no momento, não temos certeza do porquê."

*Com informações do Archaeological Research in Asia via revista Galileu

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