Universidade de Israel aponta aumento do antissemitismo no Brasil e em outros países em 2024

Relatório foi publicado pela Universidade de Tel Aviv na semana passada (Foto: EFE/EPA/ANNA SZILAGYI)

A escalada foi acompanhada de episódios como manifestações hostis contra judeus em espaços públicos e online


Um relatório produzido pela Universidade de Tel Aviv, publicado na semana passada às vésperas do Dia da Lembrança do Holocausto, revelou que o antissemitismo permanece em níveis historicamente elevados ao redor do mundo, inclusive no Brasil, mesmo com uma leve retração no número de incidentes após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. O estudo, com 160 páginas, foi elaborado por 11 especialistas do Centro para o Estudo do Judaísmo Europeu Contemporâneo e do Instituto Irwin Cotler para Democracia, Direitos Humanos e Justiça, ambos parte da universidade.

Segundo o editor do relatório, professor Uriya Shavit, "os níveis de antissemitismo continuam significativamente mais altos em comparação com o período anterior a 7 de outubro" de 2023, quando ocorreu o massacre do Hamas em Israel. Ainda de acordo com ele, "ao contrário do que se acredita, os dados mostram que a onda de antissemitismo não se intensificou de forma contínua com a guerra em Gaza. O auge foi entre outubro e dezembro de 2023, e um ano depois houve queda acentuada em quase todos os lugares".

Apesar da redução observada no final de 2024, o número total de atos antissemitas superou os registros do ano anterior em países como Brasil, Argentina, Austrália, Itália, Suíça e Espanha. No Brasil, a escalada foi acompanhada de episódios como manifestações hostis contra judeus em espaços públicos e online. A Confederação Israelita do Brasil (CONIB) também registrou 1.788 incidentes antissemitas em 2024 no país, frente a 1.410 casos em 2023 e 432 em 2022.

A situação é ainda mais alarmante em países como a Austrália, onde foram registrados 1.713 incidentes em 2024 — um salto em relação aos 1.200 casos de 2023. Na Itália, os registros mais que dobraram, passando de 454 para 877. Já no Canadá, a organização judaica B’nai Brith contabilizou 6.219 episódios, o maior número da série histórica desde o início das medições.

Nos Estados Unidos, o aumento foi moderado, mas cidades com grande população judaica também viram crescimento. Em Nova York, foram registrados 344 incidentes, contra 325 no ano anterior. Em Chicago, houve um salto de 50 para 79. O relatório alerta que mesmo em cidades onde houve queda, como Londres e Berlim, os níveis seguem elevados em relação a 2022.

A pesquisa também criticou a baixa eficácia das autoridades locais no enfrentamento ao ódio contra judeus. Um estudo incluído no relatório, conduzido pelo pesquisador Avi Teich, constatou que menos de 10% das denúncias de crimes de ódio antissemita em cidades como Nova York, Toronto, Chicago e Londres, no Reino Unido, resultaram em prisões.

"Educação e legislação sem fiscalização não significam nada", declarou o pesquisador Carl Yonker, do Instituto Irwin Cotler.

O documento também chama atenção para o impacto emocional das agressões, mesmo quando classificadas como leves.

"Queríamos mostrar o peso psicológico de episódios considerados 'menores'", afirmou o editor do projeto "Aconteceu em Um Dia", Noah Abrahams, que reuniu testemunhos de vítimas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e África do Sul.

O relatório da Universidade de Tel Aviv é publicado anualmente há 25 anos e é considerado o mais respeitado documento sobre o tema.

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