Após 7 de outubro, alguns clãs palestinos estão considerando aderir aos Acordos de Abraão e mudar a face do Oriente Médio, publicou o jornal Jerusalem Post
Tudo começou com uma frase que soava menos como o início de uma conversa diplomática e mais como o discurso de abertura em um demo day de aceleradora de startups. O ministro da Economia, Nir Barkat — cujo currículo menciona duas saídas bem-sucedidas no setor de tecnologia antes mesmo de citar o cargo de "prefeito de Jerusalém" — subiu ao palco da Conferência do Jerusalem Post em Nova York e declarou estar cansado de ouvir que a questão da Cisjordânia era insolúvel.
"Quando um produto falha", disse ele à plateia, "ou você lança uma versão melhor ou o mercado simplesmente desiste". Seu "produto" era a Autoridade Palestina; sua versão aprimorada seria um capítulo palestino dos Acordos de Abraão. "Um dia – espero que em breve – os árabes da Judeia e Samaria vão se cansar da Autoridade Palestina e pedir para aderir aos acordos", afirmou.
"Se cooperarem com Israel, vamos ajudá-los a construir uma nova Dubai. Se lutarem contra Israel, acabarão como Gaza."
Celulares se ergueram como periscópios. A conversa rotineira sobre uma eventual normalização com a Arábia Saudita desapareceu. Barkat estava falando sobre Rawabi, Abu Dis, talvez até Jenin — não sobre Riad ou Jacarta.
No seu modelo, agrupamentos de cidades da Cisjordânia contornariam Ramallah, se conectariam diretamente à segurança israelense e ao capital do Golfo, e operariam sob anexos comerciais adaptados do modelo Emirados-Israel. Nada de diplomacia de bastidores à meia-noite, nem bandeiras hasteadas nos jardins da Casa Branca — apenas códigos de contêineres, instruções de contas em custódia e demonstrativos de lucros e perdas.
Líderes árabes consideram aderir aos Acordos de Abraão
Ele se recusou a citar quais cidades ou líderes de clãs já estavam conversando com ele, mencionando a regra das startups de que se deve "construir fora do sistema e só envolver o sistema quando o protótipo estiver funcionando". Mas qualquer um que passe uma tarde nas zonas industriais de Binyamin ouve a mesma lógica que Barkat ouve: o dinheiro do Golfo está fluindo para todos os lugares, menos aqui; as taxas cobradas pela Autoridade Palestina sufocam os fabricantes locais; os postos de controle israelenses, embora gerem ressentimento, ao menos mantêm as estradas abertas.
MAIS TARDE, nos bastidores, Barkat me mostrou evidências claras — muitos líderes palestinos locais considerariam assinar os Acordos de Abraão.
Sua ousadia teve impacto porque os israelenses perderam a paciência com eufemismos. A nova pesquisa do Jerusalem Center for Security and Foreign Affairs, publicada em nosso site na manhã da conferência, mostra o porquê: cerca de 81% dos israelenses judeus temem uma repetição de 7 de outubro na Cisjordânia; 85% rejeitam deixar o Hamas no controle de Gaza, seja em uniforme militar ou civil; e 78% se opõem a um Estado palestino baseado nas linhas de 1967 — mesmo que Riad acene com a bandeira da normalização.
Os especialistas podem analisar os números a semana inteira, mas tudo se resume a uma linha de código: a partir de agora, toda proposta será avaliada em termos de expectativa de vida, não de pedigree diplomático. O binarismo de Barkat — Dubai ou Gaza — encaixa-se perfeitamente nesse novo cálculo.
Ideias tão ousadas assim precisam de parceiros. E é aí que entra Yisrael Gantz, chefe do Conselho Regional de Binyamin, que debateu no palco com nosso editor de notícias Alex Winston algumas horas depois. Quando Alex mencionou as ameaças de sanções a assentamentos feitas por Reino Unido, França e Canadá, Gantz primeiro corrigiu o mapa: "É Judeia e Samaria" — e depois devolveu a crítica diplomática ao próprio governo israelense.
O verdadeiro fracasso, disse ele, não está na retórica dos outros, mas na nossa indecisão. "Se algum dia permitirmos um Estado palestino no centro de Israel, estaremos convidando Gaza a pular a cerca em Kfar Saba". Ele descreveu a Autoridade Palestina como um exército de 45 mil homens estacionado a poucos metros da Rodovia 6.
Sua proposta se alinha à de Barkat, mas é expressa com vocabulário de soldado: aplicar a lei israelense, desmantelar o que ele chama de exército da AP, substituí-lo por conselhos locais de escala municipal que policiem suas próprias ruas, mas aceitem uma estrutura de segurança israelense, e oferecer parques industriais financiados pelo Golfo como antídoto aos estipêndios ao terror. "Sem Hamas, sem jihad — então construiremos as clínicas e as fábricas", afirmou. Os aplausos indicaram que, na política pós-7 de outubro, incentivos empreendedores e medidas estratégicas já não são vistos como conceitos opostos.
AS OUTRAS PRINCIPAIS FIGURAS DA CONFERÊNCIA completaram as peças que faltavam. O ex-chefe das IDF, Benny Gantz — atualmente líder do partido Unidade Nacional —, no mesmo palco, apresentou o cruel cronograma por trás das manchetes. Erradicar o Hamas de Gaza, lembrou ele, levará pelo menos uma década; desintoxicar os currículos escolares, uma geração inteira. Um polo logístico palestino próspero em Samaria, argumentou, pode servir tanto como prova de conceito quanto como alavanca: se for bem-sucedido ali, o sofrimento de Gaza se tornará um alerta — e não mais um modelo.
Adam Boehler, ex-enviado especial de Donald Trump para assuntos de reféns, ofereceu o mecanismo de alavancagem: "O Hamas só negocia quando as IDF estão em movimento.” Segurança primeiro, planilhas depois — uma sequência que todo investidor do Golfo compreende instintivamente. O congressista Brian Mast, veterano de combate e amputado dos dois membros inferiores, que já lavou pratos numa base das IDF, reduziu o discurso ao essencial: "Não temos tempo para bobagens. É Judeia e Samaria". A legitimidade começa pelos nomes, disse ele, e a legitimidade atrai capital.
Então veio Dan Diker, do Jerusalem Center for Security and Foreign Affairs, para lembrar a todos por que os israelenses estão buscando um novo modelo desde o início. Oslo, afirmou, foi "a maior catástrofe estratégica desde a fundação do Estado". Conceder o Prêmio Nobel a Yasser Arafat virou o telescópio moral de ponta-cabeça: o chefe do terror se tornou o pacificador, e a vítima passou a ser vista como o obstáculo.
Três décadas depois, a ideia de que o simbolismo pode vir antes da segurança ainda contamina nossas manchetes. O anexo de venture capital de Barkat, a proposta de anexação legal de Gantz e a precisão verbal de Mast refletem um cansaço coletivo com Oslo: se uma estrutura limita o direito de autodefesa de Israel, descarta-se a estrutura e mantém-se o que funciona.
Ninguém fingiu que os riscos de execução são pequenos. O líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, classificará como traidor qualquer prefeito da Cisjordânia que assinar um memorando com países do Golfo. O Hamas transformará o primeiro memorando de entendimento em uma lista de alvos literal.
Os progressistas em Tel Aviv temem que uma via econômica para a paz apenas solidifique a ocupação; os nacionalistas torcem o nariz para a ideia de que bilhões do Golfo possam financiar, às escondidas, um protostado palestino. Diplomatas europeus, fiéis ao modelo de dois Estados que vêm financiando desde 1993, já preparam suas desaprovações.
Mas o dinheiro é teimoso. No corredor após a fala de Barkat, três fabricantes palestinos trocaram números de WhatsApp com um executivo de logística dos Emirados — sem entourage, sem selfies, apenas custos de envio e prazos de entrega. Miragens não enchem pedidos.
BARKAT também revelou uma segunda startup, desta vez direcionada a Doha. Segundo ele, o Catar comprou influência no valor de um trilhão de dólares, desde fundos universitários até painéis de think tanks, enquanto hospedava líderes do Hamas em suítes cinco estrelas. A taxonomia legal vigente não acompanha essa realidade, então ele quer legislar uma nova categoria — "Estado que apoia inimigos" — para sancionar Doha do mesmo modo que se corta o oxigênio de um fundo terrorista. Só um fundador de tecnologia, pensei eu, proporia criar uma categoria legal sob medida quando o código legado já não captura mais o vírus.
Será que o primeiro anexo palestino dos Acordos de Abraão será lançado no ano que vem? Provavelmente não. Mas será que um contrato intitulado "Cluster Industrial de Jenin – Fase 1 do Investimento do Golfo" pode chegar à minha mesa antes do fim do ano? Eu não apostaria contra isso. A Autoridade Palestina não pode vender um Estado se não consegue manter as luzes acesas; o Hamas não pode vender resistência se seus túneis estão inundados e seus financiadores congelados; Israel só oferece dividendos após os resultados. Dubai ou Gaza não é mais um slogan — é o teste do mercado.
Saí do salão de eventos pensando na frase de Ben-Gurion: para ser realista em Israel, é preciso acreditar em milagres.
O milagre de hoje não seria um aperto de mãos nos jardins da Casa Branca; seria um manifesto de carga carimbado em hebraico, árabe e árabe emirati, passando por um posto de controle modernizado que antes era um ponto de conflito.
Se esse documento algum dia aparecer, lembre-se que você ouviu esse projeto pela primeira vez em um hotel em Midtown, de um fundador de tecnologia que virou ministro, que olhou para a Cisjordânia e não viu nada mais místico do que um mercado quebrado clamando por uma atualização disruptiva. A região ainda pode recusar sua oferta — mas ninguém naquele dia duvidou que ele já tinha um plano de negócios.
0 Comentários