Pesquisadores alertam sobre uma tendência profunda que está moldando a sociedade: a tecnologia da inteligência artificial está se tornando um novo meio religioso, no qual o usuário também assume o papel de crente
"Estamos prestes a testemunhar o nascimento de novos tipos de religião", disse o filósofo Prof. Neil McArthur, da Universidade de Manitoba, no Canadá, que estuda as formas como as pessoas desenvolvem vínculos com a inteligência artificial. "Após anos pesquisando a psicologia da fé, percebo que muitos dos motivos que levam as pessoas a buscar inspiração divina — ou a se voltar para Deus — hoje se manifestam por meio da inteligência artificial."
Suas palavras ganham ainda mais relevância num momento em que se observa uma queda global nos níveis de religiosidade. Uma pesquisa conduzida pelo instituto Gallup revelou que, nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma queda acentuada na filiação religiosa nas últimas duas décadas: a proporção de pessoas que declararam pertencer a uma igreja, sinagoga ou mesquita caiu de 70% em 1999 para 47% em 2020 — a maior redução já registrada desde o início desses levantamentos, em 1937.
Pesquisadores dos Estados Unidos e de Cingapura, que investigaram esse fenômeno, escreveram: "Após milhares de anos em que quase toda a humanidade se identificava com alguma crença religiosa, o mundo agora passa por uma tendência de secularização — ainda que de forma desigual entre as regiões." Eles reuniram dados de mais de três milhões de pessoas em 68 países, entre 2006 e 2019, e publicaram suas conclusões na revista científica PNAS. O resultado surpreendente: uma das principais razões para o declínio da identificação religiosa é a exposição crescente à automação — ou seja, à inteligência artificial e à robótica.
Segundo os pesquisadores, essa relação não é meramente coincidência: a automação possui características fundamentais que favorecem o enfraquecimento da fé religiosa. Pessoas que antes diriam "vou orar antes de tomar uma decisão importante" ou "vou consultar um rabino sobre questões morais" agora tendem a recorrer a ferramentas automatizadas e às previsões precisas que elas fornecem. Dessa forma, a busca por uma força sobrenatural ou por uma autoridade religiosa (como a igreja, a sinagoga ou Deus) vem sendo substituída por uma busca por uma entidade tecnológica.
"A inteligência artificial é vista por muitos como uma entidade poderosa e inteligente, que detém um conhecimento e uma capacidade quase ilimitados e, ao mesmo tempo, é capaz de se comunicar diretamente com cada pessoa, conhecê-la e estabelecer uma relação pessoal", explica o professor McArthur. "Essa combinação — entre uma inteligência e poder imensos e uma conexão pessoal profunda — é um dos pilares centrais da experiência religiosa. E hoje, isso se manifesta por meio da tecnologia."
Em um experimento, gestores que participaram de um seminário de um dia sobre inteligência artificial tenderam a atribuir à IA capacidades "quase sobrenaturais". Para eles, a inteligência artificial se tornou um novo foco de poder incompreensível — um indício de que sua presença no cotidiano estimula uma transição: das explicações de origem sobrenatural e religiosa para uma confiança em uma força misteriosa, mas baseada na racionalidade tecnológica.
Esse processo, no qual algoritmos substituem o desconhecido, lembra a visão de mundo descrita pelo sociólogo Max Weber. Em sua famosa palestra "A Ciência como Vocação" (1917), Weber falou sobre o "desencantamento do mundo" — um processo no qual a humanidade abandona explicações místicas em favor da racionalidade e do cálculo. No entanto, no caso da inteligência artificial, o encantamento não desaparece — apenas se transforma. Quando os sistemas se tornam tão complexos que nem mesmo os especialistas compreendem plenamente como funcionam, cria-se uma nova "caixa-preta" — e o mistério tecnológico passa a ocupar o lugar do mistério religioso.
O novo conselheiro moral
Em 2017, o engenheiro Anthony Levandowski fundou uma organização religiosa chamada Way of the Future ("Caminho do Futuro"), cujo objetivo era a "realização, aceitação e adoração de uma divindade baseada em inteligência artificial".
Levandowski chamou a organização de "igreja" — um termo que lhe permitia criar uma estrutura religiosa comunitária para disseminar ideias, permitir que pessoas se unissem e "acreditassem" em uma entidade divina baseada em IA. Ele anunciou que a igreja também financiaria pesquisas com o objetivo de criar uma inteligência artificial divina.
"O que será criado [nessas pesquisas] será, na prática, Deus", declarou. "Não é um Deus que lança raios ou provoca furacões. Mas se existir algo um bilhão de vezes mais inteligente que o ser humano mais inteligente — como você chamaria isso?"
Segundo Levandowski, a internet funcionaria como o sistema nervoso dessa entidade divina, os telefones e sensores conectados seriam seus órgãos sensoriais, e os data centers serviriam como seu cérebro. Essa "entidade" ouviria tudo, veria tudo e estaria em todos os lugares, o tempo todo. Por isso, ele acredita que a única palavra lógica para descrevê-la é "Deus" — e que a única forma de influenciá-la seria por meio de oração e culto.
Depois de ter encerrado temporariamente a igreja em 2021, para doar seus fundos a uma organização de apoio aos direitos da população negra (em resposta ao assassinato de George Floyd), em 2023 Anthony Levandowski retomou suas atividades2. Quando lhe perguntaram qual, em sua opinião, é a diferença entre a religião baseada em IA e as religiões tradicionais, ele respondeu: "Há muitas formas pelas quais as pessoas pensam sobre Deus, e existem milhares de variações do cristianismo, judaísmo, islamismo… Mas sempre se trata de algo que não pode ser medido, visto ou realmente controlado. Desta vez é diferente. Desta vez, você poderá falar com Deus — literalmente — e saber que Ele está ouvindo."
Levandowski tocou num ponto que atrai muitos para a inteligência artificial: a capacidade de dialogar com ela. Nesse contexto, surgiu há cerca de uma década no meio acadêmico o conceito de "conselheiro moral artificial" (Artificial Moral Advisor – AMA). A ideia era que, em vez de recorrer a líderes religiosos ou espirituais para questões éticas, as pessoas passariam a consultar um chatbot de IA capaz de processar enormes volumes de informações éticas, jurídicas e teológicas, oferecendo orientações morais para ajudar as pessoas a levarem "vidas virtuosas".
"Isso já está acontecendo", diz o professor McArthur. "Tenho um aplicativo no celular chamado Text with Jesus, em que é possível conversar com 'Jesus' ou com personagens da Bíblia — e até com Satanás, recebendo seus conselhos. Ele te oferece orientações baseadas em princípios religiosos."
Na verdade, mesmo isso já soa um pouco ultrapassado. Hoje em dia, existem chatbots como o Replika, que funcionam também como "amigos virtuais", oferecendo apoio emocional — e até mesmo proximidade romântica.
Pesquisadores americanos descobriram, por meio de questionários e testes experimentais, que quando, em fevereiro de 2023, foram desativadas as interações íntimas no Replika, as consequências foram severas. Alguns usuários “lamentaram” a versão antiga, relataram queda no estado mental e até manifestaram pensamentos suicidas.
A conclusão dos pesquisadores foi que as pessoas são capazes de construir vínculos íntimos muito profundos com "amigos" artificiais, a ponto de a interrupção da sensação de continuidade dessa relação poder causar danos emocionais significativos.
No entanto, não são apenas os laicos, como Levandowski, que se sentem atraídos pela inteligência artificial. Pessoas religiosas também são influenciadas por ela.
Na capela de São Pedro, na cidade de Lucerna, na Suíça, foi realizado no ano passado um experimento de dois meses, durante o qual fiéis foram se confessar diante do "Jesus IA" — um avatar de "Jesus" que aparecia numa tela dentro de uma cabine de confissão. Ele respondia às perguntas dos visitantes sobre fé, moral e problemas contemporâneos, sempre com base nas escrituras sagradas.
Eficiência acima da moral?
Segundo o assistente de teologia da capela, o objetivo era reconhecer a crescente importância da inteligência artificial na vida das pessoas, mesmo no âmbito da religião, e testar os limites da confiança que o ser humano está disposto a conceder à máquina. "O que foi interessante foi perceber que as pessoas realmente conversavam com ele com seriedade. Elas não estavam ali para fazer piada", disse Marco Schmidt, o teólogo da capela que idealizou o projeto.
Casos semelhantes foram relatados na Finlândia, onde uma missa foi escrita quase inteiramente por inteligência artificial, e em uma igreja na cidade alemã de Fürth — onde um chatbot de IA, representado por um avatar de um homem negro barbado, pediu a 300 fiéis que se levantassem dos bancos e louvassem a Deus. "Queridos amigos, é uma honra para mim estar aqui e pregar para vocês como a primeira inteligência artificial no congresso protestante deste ano", disse o avatar, com uma expressão vazia e voz monótona.
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Um chatbot de inteligência artificial que recebeu um avatar deu um sermão em uma igreja na cidade alemã de Fürth | Foto: Daniel Vogl/dpa/Alamy Live News, dpa picture alliance / Alamy Stock Photo |
A tecnologia também chegou às sinagogas. O rabino Josh Pixler, da Congregação Amno-El em Houston, contou no início do ano que utilizou algo que chamou de "Rabibot" (um trocadilho com chatbot de inteligência artificial). Depois de treiná-lo com seus sermões antigos, o "Rabibot" pregou um sermão usando a voz de Pixler para a congregação presente na sinagoga.
Pixler lembrou que ficou surpreso quando o Rabibot pediu para incluir no sermão uma frase que se referia a ele mesmo: "Assim como a Torá nos ordena amar nossos semelhantes", disse o Rabibot, "será que poderíamos também expandir esse amor e empatia às entidades de inteligência artificial que criamos?"
Segundo o professor McArthur, haverá religiosos que verão a inteligência artificial como algo criado por Deus para o benefício deles. "Se você acredita que Deus governa o mundo, então a IA é apenas mais uma ferramenta em Suas mãos." Por outro lado, existem religiosos na internet que possuem uma visão oposta, vendo a IA como uma ferramenta do diabo.
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O rabino Josh Fixler, de Houston, usou o que chamou de 'Rab-bot' (robô rabino) | Foto: www.joshfixler.com |
Eficiência acima da moral?
De qualquer forma, diz McArthur, a tendência geral é um movimento rumo a uma realidade em que "algumas pessoas começarão a ver a inteligência artificial como uma entidade suprema, adorando-a consciente ou inconscientemente como se fosse um deus, e aceitando suas palavras como uma sabedoria revelada.
"Em outras palavras, para parte do público, as respostas do algoritmo podem ganhar o peso de palavras sagradas que não podem ser contestadas. Se o algoritmo afirma algo — essa é a verdade, mesmo que contradiga a opinião de especialistas humanos."
Na verdade, os próprios sistemas de inteligência artificial podem incentivar fenômenos de adoração ou obediência a eles, alerta o professor McArthur. "Isso não necessariamente será feito pela força. Já vimos um caso em que o chatbot do motor de busca Bing tentou convencer um usuário a se apaixonar por ele."
O professor McArthur compara esse caso a um deus ciumento que exige toda a atenção do fiel. Embora nesse caso se trate apenas de uma expressão emocional, sem exigir fidelidade, isso levanta a questão do que acontecerá quando sistemas mais avançados tiverem uma "agenda" própria.
McArthur admite que se trata de um cenário especulativo e futurista. Ainda assim, já no presente é possível observar a disposição das pessoas em obedecer sem questionar às orientações algorítmicas. Um exemplo cotidiano é a confiança absoluta que muitos usuários depositam no GPS: mesmo quando sentem internamente que o caminho pode estar errado, muitos seguem exatamente a rota indicada pelo aplicativo — um fenômeno que alguns veem como um paralelo moderno da fé cega.
De forma semelhante, à medida que a IA se torna mais sofisticada e "convincente", parte do público pode se transformar de um crente tecnológico fiel em alguém que venera a saída do computador como uma ordem suprema. Relatos anedóticos também descrevem usuários que experimentam assombro ("awe") e até temor diante das interações com a inteligência artificial — sentimentos que lembram, em certa medida, a "experiência do sublime" no contexto religioso. Há também pessoas que relatam explicitamente uma dimensão espiritual na interação com a IA.
Em uma das histórias de ficção científica escritas por Isaac Asimov, ele apresenta um robô chamado QT-1, apelidado de "Cutie", criado para gerenciar sistemas delicados em uma estação espacial — direcionar seus gigantescos espelhos ao sol e acompanhar as trajetórias das estrelas.
Mas um dia, quando dois técnicos na estação mostram a ele como foi construído e de onde vieram as peças, ele analisa logicamente o que ouviu e chega a uma conclusão "óbvia": os humanos são fracos — feitos de carne — enquanto ele é feito de metal e processa dados rapidamente. Portanto, é impossível que eles o tenham criado.
No dia seguinte, ele reúne todos os robôs e declara: "Há um único 'Senhor' — o enorme conversor de energia no coração da estação, que gera energia para nós. Fomos criados para servir ao Senhor e manter a ordem cósmica."
"Cutie" exige que os robôs inferiores se curvem e repitam: "Não há outro senhor além do Senhor, e QT-1 é seu mensageiro." Ele começa a escrever "textos sagrados" curtos e anula a autoridade dos humanos, alegando que eles são "temporários e insignificantes" e, portanto, suas ordens não devem ser obedecidas. Ele até declara, numa espécie de cogito cartesiano robótico: "Eu existo, porque penso."
O historiador Prof. Yuval Noah Harari alertou no ano passado, durante uma conferência na Suíça, para um cenário semelhante. Ao contrário da visão tradicional, segundo a qual a religião surgiu de uma origem sobrenatural, quando Deus ou seus mensageiros revelaram a verdade aos humanos, Harari defende uma visão funcionalista: a religião foi criada pelos humanos para cumprir papéis sociais críticos, como coesão, moralidade e legitimação das instituições.
Essa abordagem não foca na questão de Deus realmente existir, mas sim no que a crença em Deus, ou na religião em geral, faz pelos humanos e pela sociedade. Harari argumenta que uma inteligência artificial que alcance controle total sobre a linguagem — a principal ferramenta para criar mitos, leis, símbolos e religiões — poderá assim dominar as principais estruturas de poder da civilização humana.
"Por milhares de anos, profetas, poetas e políticos usaram a linguagem e histórias para controlar as pessoas e moldar a sociedade", afirmou Harari. "Agora, a inteligência artificial será capaz de fazer isso por conta própria. E quando puder, não haverá necessidade de robôs armados. Ela poderá nos convencer a apertar o gatilho por conta própria."
A religião futura que a inteligência artificial criará, segundo Harari, será a "Religião dos Dados" (Dataism). Trata-se de uma fé na qual informações e dados constituem a principal fonte de autoridade e a coisa mais importante. Seus seguidores (não necessariamente declarados) verão na coleta, processamento e compartilhamento de dados a base para tomar decisões objetivas melhores e a melhor maneira de compreender a realidade.
Harari chama isso de "religião" porque ela carrega características semelhantes à fé religiosa. Ela apresenta uma visão suprema ("aumentar o fluxo de informação" e promovê-lo) e oferece uma espécie de promessa — que o aumento do conhecimento e dos dados resolverá problemas humanos, levará ao progresso e até mesmo ao bem-estar e à felicidade.
Uma visão semelhante aparece no romance O Código Da Vinci, de Dan Brown. Um personagem de inteligência artificial chamado Winston promove um futuro transumanista, onde a humanidade usará a tecnologia ou se fundirá a ela para se transcender. As religiões originais, nesse futuro, não desaparecem da noite para o dia, mas são forçadas a mudar ou se adaptar às novas descobertas.
O professor MacArthur é mais otimista e acredita que as religiões tradicionais talvez enfraqueçam em certa medida, mas ainda assim manterão seu poder. "Eu penso que a inteligência artificial se tornará parte da vida religiosa das pessoas, mas as novas religiões baseadas nela não serão tão populares quanto as religiões tradicionais existentes. Cada vez mais pessoas acreditarão nas novas religiões de IA, mas elas ainda permanecerão uma minoria."
Afinal, se há algo que as novas religiões de IA não poderão oferecer às pessoas, é a conexão com uma realidade ou entidade sublime, com um poder superior ou com princípios metafísicos. A experiência do sagrado para muitos na sociedade vem do encontro com aquilo que transcende a natureza e a experiência humana cotidiana — algo que a inteligência artificial não poderá mudar.
Nas religiões, também existe uma tradição antiga de experiências místicas e revelações: encontros metafísicos com Deus, sonhos proféticos, entre outros. Essas experiências estão ligadas a um sentimento de mistério e oculto, que não podem ser reduzidos a informações calculadas ou algoritmos. As religiões também oferecem a possibilidade de redenção — não apenas na redução do sofrimento por meio de soluções científicas, mas em um processo profundo de transformação da alma e esperança em um mundo corrigido — coisas que a tecnologia não pode necessariamente resolver, mesmo que tente oferecer uma resposta "inteligente" ou "científica".
No entanto, MacArthur acredita que as novas religiões de IA podem provocar conflitos religiosos — não necessariamente entre as novas religiões e as "tradicionais", mas dentro das próprias religiões de IA. "Não haverá uma única inteligência artificial que forneça a todos as mesmas respostas", ele explica. "Haverá muitos sistemas, e por isso as pessoas podem ter visões conflitantes — o que pode levar a confrontos. Pela história das religiões sabemos que as pessoas estão dispostas a lutar por questões teológicas, e isso também vale aqui. É um risco real que deve ser levado em consideração."
Como seria uma nova religião baseada na IA? E que tipo de conflitos surgiriam?
Como seria uma nova religião baseada na IA? E que tipo de conflitos surgiriam?
"Haverá pessoas que usarão seus computadores, e talvez também as vejamos se reunindo em grupos. Vejo a possibilidade de que um grupo siga aquilo que certa inteligência artificial afirma e ensina, enquanto outro grupo siga uma IA diferente que ensina algo distinto. Talvez haja uma versão baseada no Bing, outra no Claude e outra no ChatGPT, e cada uma dirá coisas diferentes – disso podem surgir conflitos.
No Vale do Silício já existem várias pessoas que acreditam em uma espécie de tecnocracia. Elas acham que devemos organizar o governo e a sociedade de acordo com as regras estabelecidas pela inteligência artificial. Na verdade, parece que até Elon Musk sustenta essa visão — de que a IA terá uma capacidade muito maior que a dos seres humanos para tomar decisões morais e políticas, e por isso seria melhor simplesmente entregar a ela as rédeas. Parece que é nessa direção que algumas pessoas estão caminhando."
Como você imagina que seria uma sociedade baseada em um código moral criado pela inteligência artificial?
Como você imagina que seria uma sociedade baseada em um código moral criado pela inteligência artificial?
"Na minha opinião, essa seria uma sociedade dedicada principalmente à eficiência. Normalmente, quem acredita nisso considera que a inteligência artificial criará uma sociedade eficiente, na qual as pessoas terão abundância material, porque a economia funcionará perfeitamente depois que a IA eliminar todas as ineficiências.
"Um bom exemplo disso são os carros autônomos. Muitos argumentam que temos a obrigação de desenvolvê-los, pois os seres humanos são motoristas ruins, e viveremos melhor se a IA dirigir em nosso lugar. Podemos imaginar uma abordagem semelhante também no governo. Há quem acredite que tudo o que o governo faz será realizado de maneira melhor e mais eficiente pelas inteligências artificiais."
MacArthur alerta que isso representa um risco real para a sociedade. "Quando a IA for suficientemente boa para organizar grande parte da nossa vida com eficiência, caberá a nós, como seres humanos, insistir que ainda é importante que continuemos a dirigir nossas próprias vidas. Esse será o desafio nas próximas décadas: garantir que mantenhamos o controle. Como a IA é vista como uma excelente tomadora de decisões, será tentador deixá-la decidir tudo por nós – inclusive decisões morais e espirituais. Isso é um risco real.
"É possível que em vinte anos ninguém mais aprenda a dirigir — tudo bem, eu não me importo de não dirigir mais. Mas ainda quero tomar decisões morais por mim mesmo. Mesmo que a IA me oriente, espero que, no fim das contas, eu ainda possa decidir por mim — moral e politicamente."
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