Antes do Dia de Jerusalém, exploramos o que levou religiões além do judaísmo a tornarem a cidade sagrada
Às vésperas do Dia de Jerusalém, celebrações por todo Israel marcam a libertação da cidade com cerimônias em seus diversos bairros. Nesse contexto, buscamos compreender melhor a afirmação de que Jerusalém é sagrada para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A cidade é realmente tão sagrada para as três religiões na mesma medida? E existem outras religiões ou grupos que também consideram a cidade sagrada?
Para investigar isso, conversamos com dois especialistas em religiões e sua conexão com a cidade — o professor Eyal Ben Eliyahu, da Universidade de Haifa, e a doutora Daniella Talmon-Heller, da Universidade Ben-Gurion.
Judaísmo: a santidade se desenvolveu gradualmente
O professor Ben Eliyahu começa observando que, mesmo no Judaísmo, Jerusalém se tornou sagrada mais tarde do que se acredita comumente, e esse processo foi lento.
"Na Bíblia, nos Cinco Livros de Moisés, Jerusalém não é mencionada nenhuma vez. Esse é um ponto interessante em que a Torá e o Alcorão se igualam — pois a cidade não é citada em nenhum dos dois. O primeiro lugar onde Jerusalém aparece é no Livro de Josué, mas mesmo ali não há uma relação especial com a cidade. A primeira vez que ela se torna sagrada é quando o Rei Davi traz para lá a Arca da Aliança. Depois dele, o Rei Salomão constrói o Templo na cidade. Mais tarde, no Segundo Livro das Crônicas, é mencionado que o Templo foi construído no Monte Moriá. Essa referência nos remete à história do sacrifício de Isaque e reforça a santidade da cidade", explicou o professor Ben Eliyahu.
![]() |
Manifestantes desfraldam bandeira gigante de Israel na Praça do Muro das Lamentações, na Cidade Velha de Jerusalém, em 25 de maio de 2025, véspera do Dia de Jerusalém. (Foto: Menahem Kahana/AFP) |
O professor Ben Eliyahu acrescenta que, após o período bíblico, surgiu a questão de por que Jerusalém é tão pouco mencionada nele. Maimônides respondeu que a cidade foi mantida oculta para evitar disputas entre as tribos e para que as nações do mundo não desejassem conquistá-la. Os sábios do período do Segundo Templo e depois também intensificaram a santidade da cidade, estabelecendo diferentes círculos ao seu redor — o Monte do Templo como o mais sagrado, depois toda a cidade, e por fim toda a Terra de Israel.
Cristianismo: uma santidade problemática, política e complexa
O professor Ben Eliyahu enfatiza que a santidade de Jerusalém para o Cristianismo foi estabelecida por motivos políticos.
"Ao examinar a atitude cristã em relação a Jerusalém, vemos que ela é muito complexa. Jerusalém rejeitou Jesus como Messias, e ele também profetizou a sua destruição. Jesus foi crucificado na cidade e nem sequer dormiu lá quando chegou. O Cristianismo foi formado na Galileia — por isso até hoje o Papa não dorme em Jerusalém quando visita a Terra Santa. Os cristãos falam da Jerusalém celestial. Quem, no entanto, santificou a cidade, principalmente por razões políticas, foi o imperador bizantino Constantino, durante cujo reinado foi descoberta a localização da crucificação de Jesus, na Igreja do Santo Sepulcro", explicou o professor Ben Eliyahu.
"Helena, mãe de Constantino, descobriu por meio de um milagre o local da crucificação e a cruz na qual Jesus foi crucificado. Ela construiu a igreja no local. Durante esse período, o Cristianismo não tinha interesse no Monte do Templo, mas quando os Cruzados chegaram, eles viram os edifícios islâmicos no Monte do Templo — a Cúpula da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa — e se apropriaram do lugar para si. Inicialmente, o rei de Jerusalém residia ali, e depois a ordem dos Templários. Além disso, a santidade cristã também foi fortalecida com o estabelecimento da Via Dolorosa, o caminho que Jesus percorreu até a crucificação, pela ordem franciscana durante o período mameluco", explicou a Dra. Talmon-Heller.
Islamismo: Santidade imediata, mas diferente
Quanto ao Islamismo, a Dra. Talmon-Heller observa que a santidade de Jerusalém foi imediata desde o início do Islã.
"De fato, Jerusalém não é mencionada no Alcorão, mas foi a primeira direção de oração de Maomé durante os primeiros 12 anos. Já em 692, a Cúpula da Rocha foi construída, e mais tarde também a Mesquita Al-Aqsa — ambas em grande esplendor. Jerusalém é o terceiro local mais sagrado no Islã, depois de Meca e Medina, por isso há peregrinações islâmicas e investimento contínuo no seu desenvolvimento por parte dos governantes muçulmanos", afirmou a Dra. Talmon-Heller.
No entanto, entre os xiitas, a atitude é diferente.
"Entre os xiitas, a concentração é em torno dos túmulos dos imãs, descendentes de Maomé. O local de sepultamento do filho de Ali, na cidade de Karbala, é considerado mais sagrado que Jerusalém aos seus olhos, e há até indícios de que é mais sagrado que Meca. Por isso, os xiitas dedicam menos atenção a Jerusalém", explicou a Dra. Talmon-Heller.
![]() |
Vista da Cúpula da Rocha (Al-Aqsa) a partir do Monte das Oliveiras. 02/05/2025 (Foto: Mahmoud Illean/AP) |
Religiões e seitas adicionais
Além das três religiões monoteístas, descobriu-se que há também outros ramos, principalmente aqueles que se separaram do Cristianismo, que santificam Jerusalém.
O professor Ben Eliyahu explica que os mórmons — uma seita meio cristã, meio pagã, com múltiplas divindades — santificaram Jerusalém.
"Eles tentaram se estabelecer ali ao longo dos anos, em parte porque, segundo sua tradição, os fundadores da religião saíram de Jerusalém rumo aos Estados Unidos. Por isso, a cidade simboliza para eles uma ideia espiritual. Além disso, há também uma consideração prática — grupos que mantinham presença na cidade recebiam muitas doações e peregrinos", afirmou o professor Ben Eliyahu.
Ele acrescenta que também houve uma seita utópica protestante americana-sueca que atuou na cidade durante o período otomano — a Colônia Americana.
"Esse grupo, que atuou no século XIX, defendia a igualdade de propriedades e um regime interno rigoroso. Mais tarde, foi dissolvido, e seus descendentes hoje são proprietários do famoso Hotel American Colony na cidade", disse o professor Ben Eliyahu.
0 Comentários