Autoridades dos EUA esperavam que o presidente anunciasse a transição para a 2ª fase do plano de paz antes do fim do ano, mas a insistência em que uma força estrangeira desarme o Hamas provavelmente está afastando possíveis parceiros
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira que anunciará, no início do próximo ano, os membros do Conselho de Paz responsável pela gestão de Gaza no pós-guerra — o mais recente sinal de que o esforço enfrenta atrasos.
Na semana passada, autoridades americanas disseram ao The Times of Israel que Washington pretendia anunciar, até o Natal, a transição para a segunda fase do acordo de paz de Trump para Gaza e os integrantes dos diversos órgãos envolvidos.
No entanto, as conversas sobre a segunda fase e o desarmamento do Hamas ainda estão em estágio inicial — algo que Israel considera pré-requisito para a reconstrução de Gaza, além da devolução do último refém morto. Os EUA também não conseguiram, até agora, convencer nenhum país a integrar a Força Internacional de Estabilização, necessária para substituir as forças israelenses na metade leste da Faixa de Gaza, área que Israel ainda controla.
À medida que se aproxima o prazo de duas semanas dado por autoridades dos EUA a repórteres em 4 de dezembro para anunciar a transição para a fase dois, um jornalista na Casa Branca perguntou a Trump quando ele revelaria a composição do Conselho de Paz.
"Faremos isso no início do próximo ano", respondeu Trump, praticamente descartando qualquer especulação de que o anúncio seria feito antes.
Ele reiterou que o conselho será presidido por ele e composto por vários líderes mundiais que demonstraram interesse em participar. Até agora, nenhum deles se apresentou publicamente.
O papel do conselho será amplamente simbólico, já que um comitê executivo intermediário — formado pelos principais assessores de Trump, Jared Kushner e Steve Witkoff, além do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e do ex-enviado da ONU para o Oriente Médio Nikolay Mladenov — estará mais diretamente envolvido na supervisão dos governos tecnocráticos palestinos, cuja criação também deverá ser anunciada por Washington, segundo autoridades dos EUA.
Para ajudar a implementar o plano de paz, a resolução do Conselho de Segurança da ONU adotada no mês passado concede um mandato internacional para a Força Internacional de Estabilização (ISF). No entanto, os EUA ainda não anunciaram nenhum país que pretenda integrar a força, já que praticamente todos os potenciais contribuintes não demonstram interesse em enfrentar o Hamas para desarmá-lo ou em correr o risco de ver seus soldados envolvidos no fogo cruzado entre Israel e Hamas em Gaza.
Falando na quarta-feira (10), ao final de uma visita a Israel, o embaixador dos EUA na ONU, Mike Waltz, enfatizou que Washington espera que a ISF cumpra seu mandato participando ativamente do processo de desarmamento — comentários que podem não agradar aos países ainda indecisos sobre participar.
"A força de estabilização na resolução do Conselho de Segurança está autorizada a [desarmar o Hamas]. Incluímos especificamente uma linguagem dizendo 'por todos os meios necessários'. Isso será discutido com cada país. As conversas sobre as regras de engajamento da ISF estão em andamento… O Presidente Trump disse repetidamente: o Hamas vai se desarmar de um jeito ou de outro — pelo caminho fácil ou pelo difícil", disse Waltz em entrevista ao Canal 12.
Enquanto Waltz citou publicamente o Azerbaijão como provável contribuinte, um funcionário azerbaijano disse ao The Times of Israel no fim de semana que Baku está longe de tomar tal decisão.
O funcionário afirmou que o Azerbaijão está disposto apenas a participar de uma missão de manutenção da paz, não de uma missão de imposição da paz, ecoando declarações de outros países árabes e muçulmanos consultados sobre a ISF, que acreditam que participar do desarmamento forçado de um Hamas relutante se enquadra claramente nesta última categoria.
Um dos fatores que têm afastado possíveis participantes é o veto de Israel à participação da Turquia na ISF. Países potenciais consideram que Ancara é necessária como uma espécie de seguro, dada sua relação com o Hamas e seu papel como mediadora e garantidora do cessar-fogo.
Waltz indicou que os EUA ainda trabalham para mudar a posição israelense sobre o assunto, dizendo ao Canal 12 que as conversas sobre isso "continuam".
Quando questionado se os EUA permitirão a transição para a segunda fase do plano de Gaza de Trump — etapa na qual a Força Internacional de Estabilização (ISF) e um mecanismo transitório de administração de Gaza seriam estabelecidos — antes que o corpo do último refém ainda mantido no enclave seja recuperado, Waltz evitou responder diretamente, mas afirmou que Washington está comprometido em trazer todos os cativos de volta para casa.
Waltz também foi pressionado sobre relatos de que, em uma ligação na semana passada, Trump teria pedido ao Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu que fosse um parceiro mais colaborativo na implementação do plano de paz para Gaza.
O enviado americano minimizou a ideia de um atrito, insistindo que a relação entre EUA e Israel permanece tão forte quanto sempre foi sob Trump, mesmo que haja discordâncias e "conversas difíceis" entre "família" — uma defesa frequentemente usada durante administrações democratas para desarmar percepções de tensão entre os países.


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