Atentado em Washington evidencia aumento mundial do antissemitismo

Mulher segura um cartaz com a mensagem em alemão “Nunca mais é exatamente AGORA”, em referência ao Holocausto, ao lado de uma bandeira de Israel em cerimônia no campo de concentração desativado de Bergen-Belsen, na Alemanha (Foto: EFE/EPA/CLEMENS BILAN)

O aumento do antissemitismo não foi mensurado apenas nos Estados Unidos


O assassinato de dois funcionários da embaixada israelense em Washington, na noite de quarta-feira (21), é apenas a manifestação mais recente da onda de crescimento do antissemitismo no mundo desde os atentados do grupo terrorista Hamas em Israel, em 7 de outubro de 2023, e a guerra iniciada em seguida na Faixa de Gaza.

Um suspeito foi preso e as primeiras informações apontam que ele gritou "Palestina livre" após efetuar os disparos.

Pesquisas indicam que o antissemitismo tem crescido no mundo desde o 7 de Outubro. Em abril, a Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), uma organização americana que monitora assédio, vandalismo e agressões antissemitas nos Estados Unidos desde 1979, relatou que no ano passado contabilizou 9.354 incidentes desse tipo no país.

Esse número representou um aumento de 5% em relação aos incidentes registrados em 2023, de 344% nos últimos cinco anos e de 893% nos últimos dez anos, estabelecendo um novo recorde no levantamento da ADL.

Uma pesquisa feita em 2024 por outra organização, o Comitê Judaico Americano (AJC), mostrou que 77% dos judeus dos Estados Unidos entrevistados afirmaram se sentir menos seguros desde o 7 de Outubro e 56% disseram que mudaram seu comportamento devido ao medo do antissemitismo – em 2023, 46% manifestaram ter tomado essa atitude e em 2022, 38%.

O aumento do antissemitismo não foi mensurado apenas nos Estados Unidos. O Centro de Pesquisa sobre Antissemitismo (ARC), do Movimento de Combate ao Antissemitismo (CAM), computou em 2024 um aumento mundial de 107,7% no número de incidentes do tipo em relação a 2023, quando já havia registrado um incremento de 58,6% em relação a 2022.

"Em 2024, a característica mais proeminente dos incidentes antissemitas foi o domínio esmagador da ideologia de extrema esquerda. Isso representou uma mudança decisiva em relação a 2023, quando os incidentes antissemitas de fontes de extrema esquerda e extrema direita estavam praticamente em pé de igualdade", destacou o CAM.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Daphne Klajman, mestre em estudos sobre diplomacia e conflitos e coordenadora acadêmica da instituição judaica Hillel Rio, afirmou que já havia uma tendência mundial de crescimento do antissemitismo antes do 7 de Outubro, e que o Hamas contou com isso ao realizar os atentados – sabendo que uma ofensiva de Israel em Gaza seria criticada.

"No dia 10 de outubro, três dias depois, antes mesmo de Israel entrar em Gaza, já havia protestos em Manhattan, em Paris, em Londres, falando de genocídio. O Hamas contava com isso. Queria esse apoio global, que vem da extrema esquerda, de movimentos que se consideram ultra-progressistas, que não importava o que acontecesse, eles já iam falar que Israel estava cometendo um genocídio", disse Klajman. "A ideologia está sendo formada há décadas nesses ambientes da extrema esquerda."

Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, acusou países da Europa de fazerem "incitação antissemita".

"Há uma ligação direta entre a incitação antissemita e anti-Israel e estes assassinatos", disse o chanceler, segundo informações da agência Reuters. "Esta incitação também é praticada por líderes e autoridades de muitos países e organizações, especialmente da Europa."

Embora Saar não tenha citado nomes, esta semana, os governos da França, do Reino Unido e do Canadá ameaçaram tomar "ações concretas" contra Israel caso o país não suspenda imediatamente a operação militar na Faixa de Gaza e permita a entrada de mais ajuda humanitária no enclave.

Depois, o governo britânico suspendeu negociações comerciais com Israel e impôs sanções a colonos judeus na Cisjordânia.

Para Klajman, o aumento do antissemitismo está mais relacionado ao 7 de Outubro do que à pressão de países europeus – mas a especialista se queixou de um "foco desproporcional em Israel" por parte desses governos.

"Nós temos ou tivemos outros conflitos com muito mais mortes, muito mais brutais, na Síria, no Congo, no Afeganistão, e ninguém fez pressão nenhuma nesses governos para haver ajuda humanitária, até porque esses governos são ditatoriais. Assim como não fazem pressão no Hamas para cuidar dos seus civis, para deixar entrar ajuda humanitária para os civis e não dentro de um túnel, diretamente para as mãos dos terroristas", afirmou.

Sobre a posição do governo Lula a respeito da guerra, Klajman afirmou que, depois que o Itamaraty divulgou uma nota condenando os ataques do 7 de Outubro, chegou a ter "esperança", devido ao histórico de apoio do petista ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, mas que desde então o posicionamento do Brasil tem sido "extremamente decepcionante".

"Ele [Lula] faz comparações constantes entre Israel e a Alemanha nazista, faz uma demonização completa da única democracia do Oriente Médio e do único Estado judeu do mundo. Ele compara o governo Netanyahu com os nazistas, fala que é uma guerra que tem as maiores dimensões de um conflito em qualquer momento no mundo, o que é mentira. Ele dá dados falsos, teve até uma época que ele estava inflando, [falando em] números ainda maiores [de mortes em Gaza] do que os divulgados pelo Hamas, fazendo uma propaganda gratuita para eles", criticou.

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