Trump confronta presidente da África do Sul sobre 'genocídio branco'

Os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e dos Estados Unidos, Donald Trump, durante encontro no Salão Oval da Casa Branca (Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO)

O governo da África do Sul negou discriminação racial e alegou que a lei é necessária para promover o "acesso à terra de forma equitativa e justa"


O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confrontou o mandatário da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante a visita deste à Casa Branca nesta quarta-feira (21).

Segundo informações da
CNN, o americano cobrou o presidente sul-africano sobre o que chamou de "genocídio branco" no país – ou seja, perseguição e violência contra brancos.

"Temos milhares de reportagens falando sobre isso. Temos documentários, temos notícias", disse Trump, que em seguida mostrou um vídeo.

As imagens mostram discursos e entrevistas de Julius Malema, líder do partido de esquerda sul-africano EFF, com frases como "A revolução exige que em algum momento haja mortes!", e um comício em que o ex-presidente Jacob Zuma (2009 –2018), que já fez parte do partido de Ramaphosa, canta uma canção com os versos: "Você é um boer [termo que designa os fazendeiros brancos na África do Sul], nós vamos atirar neles e vocês vão fugir/atire no boer".

O vídeo também inclui imagens de uma estrada com várias cruzes no acostamento, com a mensagem "Cada cruz representa um fazendeiro branco que foi morto na África do Sul", mas não informa a localização da rodovia.

Em resposta, Ramaphosa perguntou a Trump onde as imagens foram feitas, e o presidente americano afirmou que "foi na África do Sul". Trump também mostrou papéis que, segundo ele, seriam reportagens falando do "genocídio branco".

O empresário Elon Musk, que nasceu na África do Sul e alega que há perseguição a brancos no país, estava no Salão Oval e Trump se referiu a ele.

"Elon é da África do Sul. Não quero envolver o Elon nisso. É tudo o que devo fazer, colocá-lo em outro assunto. Mas, por acaso, o Elon é da África do Sul. Era isso que o Elon queria [falar de outro assunto], ele veio aqui com um assunto diferente, [sobre] enviar foguetes para Marte", disse Trump.

Na semana passada, um grupo de 49 sul-africanos brancos chegou aos Estados Unidos, o primeiro grupo de cidadãos da África do Sul beneficiados por um programa do governo Trump de concessão de refúgio.

Ao anunciar a criação do programa em fevereiro, Trump descreveu os beneficiários como "refugiados africâneres [termo que designa a minoria branca na África do Sul] escapando da discriminação racial patrocinada pelo governo, incluindo confisco de propriedade racialmente discriminatório [...] sem compensação". Trump também cortou a ajuda financeira ao país africano.

Uma lei promulgada no início do ano por Ramaphosa permite a desapropriação de terras sem indenização em determinadas circunstâncias, como casos em que uma propriedade não está sendo utilizada e não há intenção de desenvolvê-la ou gerar lucros com ela.

O governo da África do Sul negou discriminação racial e alegou que a lei é necessária para promover o "acesso à terra de forma equitativa e justa": segundo dados publicados pela agência Reuters, apenas 4% das terras privadas no país pertencem a negros, que representam quase 80% da população sul-africana.

Nesta quarta-feira, Ramaphosa defendeu a nova lei no encontro com Trump. "Nossa Constituição garante e protege a santidade da posse da terra, e essa Constituição protege todos os sul-africanos no que diz respeito à propriedade da terra", disse o presidente sul-africano.

"Seu governo também tem o direito de desapropriar terras para uso público", continuou Ramaphosa.

Trump respondeu que o governo da África do Sul está "tirando as terras das pessoas" e alegou que fazendeiros brancos "estão sendo executados".

Ramaphosa apontou membros brancos da sua delegação, que incluíam os golfistas sul-africanos Retief Goosen e Ernie Els e o ministro da Agricultura, John Henry Steenhuisen, para afirmar que não há "genocídio branco" no país.

"Se houvesse um genocídio de fazendeiros africâneres, posso apostar que esses três cavalheiros não estariam aqui, incluindo meu ministro da Agricultura, ele não estaria comigo", disse Ramaphosa.

Steenhuisen afirmou que a coalizão que foi montada após a última eleição na África do Sul, em 2024, teve o objetivo claro de deixar Malema fora do governo. "Não podemos ter essas pessoas nos Union Buildings tomando decisões", disse, citando a sede do Executivo em Pretória.

Postar um comentário

0 Comentários