A Arábia Saudita está investindo bilhões na construção de enormes centros de dados para o desenvolvimento de inteligência artificial, com o objetivo de se tornar uma potência tecnológica global. Segundo reportagem do New York Times, o país já está em negociações com gigantes como a OpenAI e a Amazon
No noroeste da Arábia Saudita, não muito longe das margens do Mar Vermelho, está sendo construído atualmente um ambicioso centro de dados avaliado em cerca de 5 bilhões de dólares, projetado para fornecer imenso poder computacional ao desenvolvimento de inteligência artificial para programadores da Europa e até de regiões mais distantes. Na costa leste do reino, está planejado outro complexo, com um investimento de bilhões de dólares, que poderá atender desenvolvedores de IA na Ásia e na África.
Durante gerações, a Arábia Saudita exportou petróleo. Agora, o país almeja exportar um dos recursos mais cobiçados da era digital: o poder computacional.
Segundo a reportagem do The New York Times, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman está aproveitando uma oportunidade histórica para transformar a riqueza do petróleo saudita em influência tecnológica global. Poucos países podem se igualar ao reino em termos de energia barata, vastos recursos financeiros e extensos territórios disponíveis — elementos essenciais para as empresas de tecnologia que desejam construir e operar os enormes e energívoros centros de dados que impulsionam a inteligência artificial moderna.
Essas iniciativas colocam as ambições de IA da Arábia Saudita no centro de uma disputa geopolítica pela supremacia tecnológica mundial.
Segundo autoridades sauditas, o reino já está em negociações com gigantes americanas da tecnologia sobre o uso de seus futuros centros de dados e o fortalecimento de suas parcerias estratégicas. Altos executivos de empresas como OpenAI, Google, Qualcomm, Intel e Oracle participaram da conferência anual "Iniciativa de Investimento Futuro", conhecida como o "Davos do Deserto".
Em 18 de novembro, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman deverá visitar os Estados Unidos.
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| Donald Trump e Mohammed bin Salman | Foto: Reuters |
Entre os acordos potenciais que estão sendo negociados, um deles pode fornecer poder computacional para a xAI, empresa de Elon Musk, segundo afirmou Saeed Al-Dubais, executivo da Humain, uma nova companhia estatal responsável por coordenar vários projetos de inteligência artificial.
"A Amazon esteve aqui ontem. A Microsoft esteve conosco esta manhã", disse Al-Dubais em uma entrevista neste mês, acrescentando que as negociações com Musk envolvem "um plano muito maior".
O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman criou a Humain em maio, com a ambição de que a empresa processe cerca de 6% da carga global de trabalho em IA nos próximos anos.
De acordo com o grupo de pesquisa Synergy Research Group, que analisa a indústria de data centers, essa iniciativa pode transformar a Arábia Saudita — que atualmente responde por menos de 1% da carga mundial — de um ator marginal a um protagonista central, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China no fornecimento de poder computacional.
O reino está construindo três grandes complexos de data centers destinados a empresas estrangeiras que, segundo autoridades sauditas, poderão oferecer custos até 30% menores para operações de inteligência artificial em comparação com os Estados Unidos.
As licenças de construção são concedidas em questão de semanas, e redes de cabos submarinos e fibras ópticas conectarão cerca de quatro bilhões de pessoas em três continentes a esses centros.
Para superar preocupações de segurança em um país de regime autoritário, a Arábia Saudita também considera a criação de "zonas de embaixadas de dados", onde empresas estrangeiras poderiam operar sob as leis de seus próprios países, e não sob a legislação saudita.
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| Arábia Saudita | Foto: Reuters |
A Amazon declarou que está colaborando com a Humain para "acelerar a visão da Arábia Saudita de se tornar uma líder global em inteligência artificial". A Microsoft se recusou a comentar, e a xAI não respondeu aos pedidos de declaração.
Apesar das grandes ambições, muitos duvidam da capacidade do reino de concretizá-las. A Arábia Saudita ainda possui um reservatório limitado de especialistas em inteligência artificial. Alguns analistas alertam para uma possível superoferta global de capacidade computacional, à medida que governos e empresas correm para construir centros de dados em um ritmo mais rápido do que o necessário para gerar lucro.
"Jamais se deve dizer 'nunca', mas não consigo imaginar nenhuma circunstância que permita à Arábia Saudita alcançar 6% da capacidade computacional global em inteligência artificial", afirmou John Dinsdale, analista sênior do Synergy Research Group.
Em jogo está muito mais do que a capacidade da Arábia Saudita de transformar sua economia dependente do petróleo. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman quer usar a inteligência artificial para exercer a mesma influência global que o reino desfrutou graças ao petróleo.
"É fácil dizer que este é apenas mais um exemplo dos sauditas jogando dinheiro na nova moda tecnológica", afirmou Vivek Chilukuri, pesquisador sênior do Center for a New American Security. "Eles podem não alcançar todos os seus objetivos, mas provavelmente conseguirão muito mais do que muitos de seus críticos imaginam."



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