Autoridades em Jerusalém dizem que, em todos os contatos com Washington, os americanos repetidamente prometem que os interesses de Israel não serão prejudicados — especialmente sua segurança
A tensão aumenta em Jerusalém antes da visita do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Golfo nesta terça-feira (13), em meio a sinais crescentes de um possível anúncio sobre um acordo regional, incluindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza, conforme publicou o jornal Israel Hayom.
O Presidente Trump deve chegar à Arábia Saudita nesta terça-feira, onde se encontrará com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Segundo diversas fontes, pelo menos parte dessa reunião contará com a presença de outros líderes regionais, entre eles o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas (Abu Mazen), o líder sírio Abu Mohammad al-Julani e o primeiro-ministro libanês Nawaf Salam. Caso esses relatos se confirmem, será um encontro sem precedentes entre Trump e os líderes de três nações diretamente ligadas a Israel — algumas das quais ainda estão em conflito com o Estado judeu.
De acordo com um diplomata árabe familiarizado com os detalhes, há um grande esforço para priorizar um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns, a fim de criar um clima propício para uma declaração positiva e abrir caminho para avanços diplomáticos de grande alcance em toda a região. Esses esforços se concentram em viabilizar um cessar-fogo imediato em Gaza assim que Trump aterrissar, como gesto ao presidente americano, em troca da libertação de vários reféns.
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Trump embarca após comício em Las Vegas, 14/09/2024 (Foto: AP/Alex Brandon). |
As opções em discussão dependem da duração do cessar-fogo e da exigência do Hamas de retomar o controle do abastecimento em Gaza. A longo prazo, há relatos – como veiculado pelo canal saudita Al-Sharq – de que os americanos concordaram com a inclusão do Hamas no futuro pós-período transitório, sob uma administração profissional focada na reconstrução e liderança palestina em Gaza, embora nenhuma outra fonte tenha confirmado isso. Enquanto isso, Israel mantém uma posição consistente, que inclui um cessar-fogo dentro do marco proposto por Witkoff, com a libertação de metade dos reféns vivos em troca da liberação de operativos e negociações com prazo definido.
O novo desenvolvimento nas últimas semanas é o envolvimento profundo da Autoridade Palestina (AP) nas negociações, após permanecer à margem. Na semana passada, o novo vice-presidente da AP, Hussein al-Sheikh, reuniu-se com Mohammed bin Salman. Sua nomeação foi, essencialmente, uma imposição da Arábia Saudita a Abu Mazen como parte das reformas na AP.
Após o encontro, al-Sheikh declarou ao canal Al-Arabiya no domingo: "Negociamos e mantemos diálogo com Israel com base na realidade e nos interesses. Os EUA são os únicos que podem forçar Israel a parar a guerra. A Arábia Saudita deixou claro que não estabelecerá relações com Israel antes da criação de um Estado palestino. Chegamos a entendimentos com os sauditas sobre quem deve controlar Gaza."
A fonte acrescentou: "O Hamas precisa mudar sua política para integrar o arranjo político palestino. Mantemos contato e diálogo com eles nesta fase. As armas palestinas devem estar sujeitas a decisões políticas, e seu uso precisa ser controlado."
Isso significa que apenas a pressão americana sobre Israel resultará em cessar-fogo. Segundo al-Sheikh, os sauditas recuaram da oposição à participação da AP na reconstrução e gestão de Gaza. Quanto ao Hamas, sua declaração é mais ambígua que antes, sem posição definitiva sobre subordinar suas armas à AP ou desmobilizá-las.
Mas os palestinos não são toda a história — relatos sobre o envolvimento dos governantes da Síria e do Líbano indicam a possibilidade de que Trump tente avançar, ou ao menos anunciar, um marco para um acordo regional abrangente, com uma base econômica particularmente robusta, ao estilo de Trump. Trata-se de algo inspirado no "Acordo do Século", apresentando uma visão econômica e comercial de longo prazo. Os aliados de Trump vêm trabalhando nesse mega acordo há bastante tempo, e estima-se que haverá menções significativas a ele antes ou durante a viagem do Presidente à região.
Tudo isso também se conecta às renovadas negociações nucleares que começam hoje em Omã. O pano de fundo é a declaração do enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, de que o país "não permitirá enriquecimento de urânio em solo iraniano", chamando-o de "linha vermelha". Em contraste, o chanceler iraniano Araghchi afirmou que o Irã "nunca abrirá mão do enriquecimento em seu território". A lacuna parece intransponível, mas o desejo de Trump de evitar atrasos em seu grande plano – um confronto direto com o Irã seria um obstáculo – pode levar a um compromisso criativo.
De volta a Jerusalém – autoridades locais afirmam que, em todos os contatos com Washington, os americanos reiteram que os interesses israelenses não serão prejudicados, especialmente em segurança. Uma fonte israelense de alto escalão diz que essas mensagens foram repassadas no fim de semana por múltiplos canais, não apenas pelo ministro Ron Dermer.
O próprio ministro Dermer se reuniu com o Presidente Trump na Casa Branca na semana passada e, durante sua estadia em Washington, discutiu cessar-fogo em Gaza, as negociações nucleares e o mega acordo regional. Uma fonte diplomática israelense afirma: "Nada de relevante acontecerá sem que estejamos sempre informados."
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